“Quando a neve voltar a cair” Cineclube Agulheiro 310
Naquele sábado chuvoso pudemos ter uma nova perspectiva da guerra, bem como do cinema. Era ano de 1941, as tropas nazistas avançavam sobre o território russo, e nossos guerrilheiros haviam ficado para trás em um convento abandonado na floresta. As condições de sobrevivência não eram tão escassas como em “Nada de novo no front”, o que não significava que não houvesse desgosto pelas perdas e privações que a guerra trouxera. Seus personagens são fortes caricaturas já anunciadas no início do filme como Yelena, a soldada perfeita; Semion, o professor inteligente e disciplinado; Sasha, o beberrão; Fiódor, o ferreiro; Dimitri, o fazendeiro; Petrov, o calado e misterioso; os irmãos Mitia e Olga, representando a juventude; Nina, a bailarina; e claro, Vladimir, o líder e galã. Tais figuras já tão definidas contribuíram para a perda da autenticidade na atuação, deixando o telespectador um tanto incomodado com o filme. De inegável valor histórico, o filme do francês Tourneur teve dificuldades para agradar a todos os membros do Cineclube. Apesar de sua indicação ao Oscar pelos efeitos especiais, o enredo é fraco no que se refere ao envolvimento emocional do público.
Mas há algo novo que chamou a atenção, o feminino. As mulheres aparecem ocupando um papel muito mais ativo na guerra. Primeiro temos Yelena, que com seu tiro certeiro já matara mais de 60 homens, tudo sem deixar a maquiagem por fazer. Em seu extremo oposto temos Nina, a pura expressão da feminilidade, arrancando suspiros dos homens ao seu redor, tratando dos corações feridos com sua voz suave e seus gestos delicados. E Olga, que apesar da pouquíssima idade, assumira o papel da mãe do grupo, adotando para si todas as características da mulher que vive para o lar.
Cada uma das personagens nos mostra que, com seu amor, é possível esquecer até mesmo os horrores da guerra, e que a doação de si mesma vai além do homem amado, sua devoção é pela causa! Apesar de Yelena e Nina amarem o mesmo soldado, é explicita forma com que se respeitam. E Olga, a pequena Olga, quem por tanto tempo serviu de motivação para Mitia voltar vivo para o alojamento, apresenta sua força e determinação em proporcionar um ambiente mais caseiro possível.
Ao que nos parece, a camaradagem em si não é um ponto forte dos heróis de Quando a Neve Voltar a Cair, mas sim a união devido à um interesse em comum, a causa, a nação. O sacrifício da própria vida aparece diversas vezes acompanhado de um sorriso ou expressão de orgulho, fixando a ideia do filme como propaganda de guerra, e não como ferramenta de compreensão da mesma.
Se valeu a pena? Claro! Afinal, além da camaradagem, também estamos unidos por uma causa, o gosto pelo cinema.