A cega obsessão de Ringo
Nos anos 60, o cinema italiano inspirado nos clássicos do velho oeste americano, produziu uma vasta safra de filmes que acabaria sendo denominada no resto do mundo de western spaghetti e da qual se originaram os personagens Sartana, Django e Ringo, o principal deles e que batizaria um cachorro que ganhei de meu tio René.
Como dizem alguns que o cão é o melhor amigo do homem, Ringo será o personagem da crônica desta semana, contrariando inclusive minha declarada predileção por gatos.
O cão não tinha revolver de ouro, como o Ringo original, e sua pistola de ouro, nem mesmo tinha revolver e tampouco sabia atirar. Nem precisava, sabia latir e muito.
Entre suas maiores diatribes, Ringo, tinha aversão ou talvez compulsão pelo ruído da motocicleta de nosso vizinho de cerca. Acho que era uma Java, ou coisa parecida e bastava o vizinho fazê-la funcionar que Ringo ficava alucinado, pulava a cerca que dividia nossos terrenos e ia latir e pular no pobre motociclista.
Felizmente o cão, não era o Cão de Baskerville e só queria brincar, portanto, não mordia ninguém. No início, Ringo ficava solto em nosso quintal, é caros leitores ainda era O tempo dos quintais, mas com a aquisição da motocicleta pelo vizinho, tivemos que confinar nosso bravo Ringo na parte de trás de nosso quintal, construindo para tanto, um portão que o mantinha preso.
Nada disso adiantou, bastava o vizinho acionar a moto que o cão ficava ensandecido e arrebentava a cerca para passar para o terreno ao lado. Decidimos reforçar a cerca. Não adiantou. Ringo pulava o portão que o mantinha preso e arrebentava a cerca que no resto do terreno não fora reforçada. Tivemos então que erguer o portão. Também não adiantou. Foi quando o vizinho já cansado do assédio de Ringo resolveu não mais ligar a motocicleta em seu terreno, o fazendo apenas na rua. Para sua infelicidade, o ouvido de Ringo era ótimo e cada vez que a moto era ligada, não havia o que o prendesse.
Foi quando minha família decidiu levantar ainda mais a cerca, evitando, definitivamente, que o cachorro fugisse. Como ele não tinha asas, deu certo.
Dias se passaram semanas se passaram e o motociclista, provavelmente, esqueceu da existência de Ringo e creio que mediante tal esquecimento, pendurou um boné de couro que usava no alto da cerca que separava seu terreno do habitat de Ringo. Não sei de onde o cão parece ter retirado asas e alcançou o boné do incauto vizinho, reduzindo-o a um trapo.
Foi sua última peraltice sob nossa égide. Acabou doado para alguém que tinha um sítio e foi embora.
Antes de começar a escrever essa crônica, narrei-a para minha mulher e disse brincando que iria perguntar a meus amigos Daniel Wood e Rosemarie de Carli, se a psicologia poderia explicar a obsessão de Ringo pela motocicleta, quando Margarete me respondeu, “será que ele não queria apenas dar uma volta de moto e o vizinho nunca entendeu, daí sua obsessão”?
Não havia pensado nisso, mas parece bastante plausível, principalmente, se levarmos em conta que ele também quis usar o boné do motociclista.
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