A Cúmplice
Há muitos anos atrás, quando eu era ainda menino, Juca Chaves veio à cidade para um show e eu o conheci na Rádio Colméia, uma vez que meus tios Lulu e René Augusto lá trabalhavam.
Anos depois, na década de 70, eu já adolescente, ouvi uma bela canção de Juca Chaves que dizia mais ou menos isso:
“Eu quero uma mulher que seja minha amiga, amante, confidente a cúmplice de tudo que eu fizer a mais.
No corpo tenha o Sol, no coração a Lua, a pele cor de sonho, as formas de maçãs, a fina transparência, uma elegância nua, o mágico fascínio, o cheiro das manhãs.
Eu quero uma mulher, de coloridos modos.
No seu falar provoque, o silenciar de todos e seu silêncio obrigue a me fazer sonhar.
Que saiba receber. que saiba ser bem-vinda, que possa dar jeitinho a tudo que fizer.
De dia, uma menina, a noite, uma mulher.”
Conheci essa mulher ainda muito menina, no final dos anos 60, quando éramos vizinhos. Minha então excessiva timidez não permitiu que sequer lhe dissesse um simples oi. Nos anos 70, já adolescentes, tornamos a nos encontar e ficamos amigos.
Estive em seu aniversário de 15 anos, levei uma luz negra, uma estrobo, um globo e discos.
Estudamos no Túlio e depois no São José. Depois perdemos um pouco o contato, seguindo diferentes caminhos. Casamos, e, nos reaproximamos, e, fui padrinho de sua filha mais velha e ela madrinha de minha filha mais velha.
Depois que nossos respectivos casamentos acabaram, novamente, estreitamos nossa amizade.
Com uma pizza aqui, uma cerveja ali, outras pizzas lá, outro churrasco acolá, começamos a namorar.
Casamos em 96, e, embora fôssemos amigos há mais de 20 anos, fomos descobrindo novas afinidades.
Amávamos as vozes de Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Frank Sinatra, as melodia de Tom e as letras de Chico.
No cinema íamos do água com açúcar ao estranhamento causado por Cronemberg e Lynch, que da perplexidade sempre nos levavam à reflexão, até desaguar no cinema de Clint Eastwood. Três de seus filmes, As Pontes de Madison, Sôbre meninos e Lobos e Gran Torino, estão entre nossos favoritos.
Descobrimos outras afinidades, reinventamos outras e claro, temos também algumas diferenças, mas nenhuma que interfira no processos que é o amor, nos excessos dos amantes que somos e no laço, no abraço, no passo a passo, no compasso da amizade que nos une.
Minha amiga, minha parceira, minha cúmplice ideal, como aquela da música de Juca Chaves, que sabe dar jeitinho em tudo que faz e o faz sempre com elegância, é Margarete, minha mulher.
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