A História diante dos nossos olhos
Pode parecer aos meus caros leitores, em um primeiro momento, que estou advogando em causa própria quando afirmo que a semana passada foi marcada por um acontecimento histórico da maior relevância para nossas cidades. Mas espero que, passada esta primeira impressão e atentos aos meus argumentos, estes mesmos leitores concordem comigo ao final destas linhas: o descerramento da placa inaugural do campus União da Vitória do Instituto Federal do Paraná foi um acontecimento de primeira grandeza para toda a nossa região. Claro que quem está afirmando isto é um professor deste mesmo campus. Mas também é alguém que estuda de modo aprofundado a história de nosso país há pelo menos quinze anos, e conhece bem o impacto que uma inauguração deste porte provoca em uma população como a nossa.
Falemos, primeiro, do impacto na área econômica, talvez o mais fácil de mensurar e aquele que vai falar mais alto a algumas pessoas – ainda que não a mim, particularmente. O surgimento de um campus deste porte representa um motor não pequeno para uma economia das dimensões da nossa. Primeiro porque significa a atração de profissionais vindos de várias regiões do país, cada um com suas necessidades de consumo e seus hábitos adquiridos ao longo de anos de formação, o que abre oportunidades de negócio que, de outro modo, provavelmente não surgiriam em nosso comércio – ou, na melhor das hipóteses, levariam muito mais tempo para surgir. Cito apenas um exemplo para ilustrar esta ideia: sou vegetariano. Assim como minha esposa. Onde morávamos, em Jundiaí, ser vegetariano era uma escolha relativamente simples, uma vez que no estado de São Paulo abundam opções de lojas com produtos dessa linha e, mesmo, restaurantes com comida saborosíssima e que não leva uma grama sequer de carne de qualquer tipo. Sei que não sou o único, sei que existem outros colegas do instituto que também são vegetarianos. O que significa duas coisas: a primeira que sim, ter me mudado para a região conhecida pelo xixo e por ter churrascos em todo fim de semana foi um fator que realmente dificultou minha adaptação por algum tempo (hoje posso dizer que já me acostumei, embora o odor típico dos domingos à tarde ainda me incomode um tanto…). E a segunda, muito mais útil para meu argumento, é que minha chegada na cidade, juntamente com outros colegas vegetarianos, significa a ampliação de um mercado que, talvez, a partir de agora passe a oferecer maiores oportunidades a quem quiser se aventurar a investir nos próximos anos. Claro que se trata apenas de um exemplo entre tantos outros. Imaginem a quantidade de outros “hábitos estranhos” que trazemos conosco de outros locais deste país de dimensões continentais, e terão na mente um quadro mais fiel do que estou querendo dizer.
Mas o impacto maior de uma instituição como esta, aquele que eu, particularmente, considero o mais importante, aquele de maiores consequências para o local onde moramos, reside na finalidade mesma do campus há apenas alguns dias inaugurado: a educação. Ninguém pode contestar seriamente, sob pena de cair no ridículo, que uma sociedade avançada se constrói apenas com educação de qualidade. Não há como negar que sem boas casas de ensino não se formam bons cidadãos, nem bons governantes, tampouco bons comerciantes ou, ainda, bons médicos e advogados. E também me parece complicado argumentar que a ida de nossos jovens para cidades maiores atrás de boas faculdades, quando chegada a hora, não significa uma perda de grande magnitude para nossa região – afinal de contas sabemos que grande parte das famílias se iniciam exatamente no período da faculdade, o que acaba incentivando a que muitos daqueles que vão simplesmente não queiram mais voltar, terminados os estudos.
E é aqui que o instituto se propõe a contribuir decisivamente para nossas cidades e região: ao oferecer uma educação de altíssimo nível já nos anos do ensino médio, conjugada a uma formação não menos esmerada na área técnica, ele incentiva os jovens a ficar aqui, aplicando os conhecimentos recebidos e atuando, de modo decisivo, para o desenvolvimento de toda a nossa sociedade. Com um adendo de grande importância: a oferta desta oportunidade ímpar de formação não se restringe apenas a aqueles que podem pagar por ela; ao oferecer a alunos de baixa renda a oportunidade de frequentar seus bancos escolares, o instituto atua de modo direto para que nossa comunidade se torne mais igualitária, aplicando princípios verdadeiramente democráticos na oferta de iguais oportunidades para todos que se inscrevam em seus cursos. Porque meritocracia sem iguais oportunidades formativas é ilusão, no limite é hipocrisia.
Com isso cria-se um círculo virtuoso já verificado em vários lugares do planeta que grande parte de nós, hoje, inveja. Tive a oportunidade de entrar em contato, há alguns meses, com um pesquisador britânico que realizou um interessante e volumoso estudo sobre o sistema escolar finlandês. Após anos de intenso trabalho, que resultou em sua graduação de PhD, a conclusão foi uma só: a implantação de um sistema educacional democrático em cidades do interior daquele país, até então de pequenas dimensões e com economias de dimensões bastante diminutas, foi capaz de fazer com que estas localidades se desenvolvessem em todos os aspectos, fosse através da formação de melhores governantes, fosse através da atração (ou incentivo à formação) de novas empresas que, por sua vez, geraram novos empregos e atraíram novos habitantes. Áreas inteiras até então esquecidas pelo poder público tornaram-se pujantes no contexto de seu país. Que, ao adotar este sistema em todas as cidades de modo consistente, ao longo de longos trinta anos, conseguiu passar de pouco mais do que um estado satélite do império soviético, invadido e destroçado durante a Segunda Guerra Mundial, para o campeão mundial de qualidade de vida neste alvorecer de século XXI.
Apenas a educação forma, transforma, constrói. Em tempos de Lava Jato, quando já se torna cada vez mais flagrante o absurdo da afirmação de que a corrupção é privilégio de apenas um grupo político, encontrando-se, ao invés, plenamente disseminada por todas as esferas de comando do país; governantes estes que, é preciso não esquecer jamais, conseguiram chegar ao poder através dos votos oriundos de uma sociedade também doente, que diz abominar o errado mas o pratica rotineiramente em pequenos atos do cotidiano (seja pedindo para vereadores furarem fila nos atendimentos do SUS; seja pagando contadores hábeis em realizar cálculos que permitam menor pagamento de imposto; seja, ainda, ultrapassando pelo acostamento para fugir de um congestionamento, dentre tantos outros exemplos), a formação de cidadãos conscientes se torna a única esperança, o único caminho certo e seguro para um futuro melhor.
Se não fosse por mais nada, apenas isto já seria o suficiente para tornar a inauguração do campus União da Vitória do Instituto Federal do Paraná um acontecimento histórico da maior envergadura. Mas há ainda mais. Muito mais. Um pouco do que pude explicitar nestas breves linhas. Mas que poderá ser melhor explicado por seus servidores a todos quantos se dispuserem a nos visitar lá no São Cristóvão, avenida Paula Freitas, no período da manhã ou da tarde. Venham, nos visitem, nos conheçam, contem conosco, comemorem conosco, e construam conosco nosso futuro. Porque se o Instituto Federal é do Paraná, este campus é de União da Vitória. E de Porto União. E de toda a região. Uma conquista assim não pode passar despercebida. Vida longa ao nosso novo campus! E até a próxima!
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