A importância de ser lembrado
Logo após o falecimento de meu amigo Ademar Olimpio Murara, comuniquei seu falecimento a alguns amigos em comum, entre os quais Ivo Trebien e Paulo Roberto Rochemback, o Paulinho, como sempre o chamamos. Logo após o falecimento de meu amigo Ademar Olimpio Murara, comuniquei seu falecimento a alguns amigos em comum, entre os quais Ivo Trebien e Paulo Roberto Rochemback, o Paulinho, como sempre o chamamos.Ivo, no mesmo dia em que recebeu meu whats app, veio me visitar e falou da inexorabilidade do tempo e da importância das lembranças, em especial daquelas em que, ainda garotos, começamos a construir nossas identidades. No dia seguinte recebi uma ligação de Paulinho, que hoje mora em Araucária. Ele lamentou a morte de nosso querido Ademarzinho e me contou que aderiu à pratica de longas caminhadas, já tendo feito por duas vezes o caminho de Santiago de Compostela, a Serra da Mantiqueira e mais recentemente uma trilha no Rio Grande do Sul. Paulinho contou que faz as longas caminhadas sempre sozinho e dessa forma sobra tempo para reflexões e nestas ele sempre lembra de nosso tempo de meninos e depois adolescentes em que repito, começamos a construir aquilo que hoje somos. No início de setembro, minha filha Mayara que reside em São Paulo, veio para Curitiba para nos apresentar seu namorado, Bradley Dan, um americano que mora em San Francisco. Durante o jantar, Mayara me disse que ela e Bradley já prepararam um roteiro para eu fazer quando for a San Francisco e que inclui bares de jazz, a mítica e mais antiga loja de discos da Califórnia, Amoeba e ao que Bradley acrescentou, uma incursão a um bar especializado em uísque japonês onde se pode tomar o já lendário Yamazaki, eleito o melhor single malt do mundo. No outro dia eu liguei para Mayara e disse que havia ficado muito feliz por ela e Bradley terem lá em San Francisco, lembrado de meus gostos e já estarem preparando uma agenda de locais para eu visitar. No fim da tarde desta terça-feira, recebi um whats app de minha filha Nina Rosa, contando que ela e Clarissa estavam em casa preparando umas lingüiças de soja e outros petiscos, enquanto tomavam cerveja e ouviam Chico Buarque. Nina disse para Clarissa, “acho que meu pai gostaria de estar aqui conosco”. Clarissa concordou e lembrou-se da última vez que estive no apartamento delas, quando Nina preparou uma bela macarronada com gorgonzola, antecedida por alguns queijos e um ótimo vinho espanhol. Ficamos até as 4 da manhã ouvindo música, quando cada um nós escolhia a sua e justificava a escolha. Esses pequenos gestos como os de Ivo, Paulinho. Mayara e Bradley e Nina Rosa e Clarissa, são na verdade gestos de uma enorme significação, pois demonstram para nós a importância de sermos lembrados em diferentes momentos daqueles que nos querem bem e por nós são queridos. Todas as quatro diferentes lembranças que meus dois amigos e minhas duas filhas, tiveram de mim, me deixaram muito emocionado e me remeteram a um outro lugar das lembranças, que igualmente me emocionam e me deixam com um misto de felicidade e tristeza. Sempre quando eu retornava de uma viagem, tocava o telefone de minha casa, ora era minha mãe ou tia Lulu, ou tio René, que ligavam para saber se eu já havia chegado e se havia feito boa viagem. Quando eu chegava antes da hora, era eu quem ligava, avisando que já estava em casa, isso sem falar das inúmeras vezes que minha mãe ou tia Lulu ligavam para saber a que horas eu sairia de tal lugar e que horas deveria chegar em União da Vitória e que era para vir direto para a casa delas, onde um jantar nos esperava. Lembro como disse, com alegria desses telefonemas e, no entanto, lembro deles também com tristeza, pois eles não acontecem mais, já que nenhum deles está mais entre nós e dessa forma, também não tenho mais para quem ligar avisando que já cheguei, exceto para minhas filhas que sempre pedem que mande um whats app quando chegar em casa. Talvez sejam essas ausências, esse vazio, que me deixe tão sensibilizado e me dê a noção exata da importância de ser lembrado e igualmente lembrar daqueles que me são caros.
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