A menor partícula de matéria é a letra.
Parece fácil fazer um traço no chão, e é. Que tenhamos assim uma noção de um espaço que se curve sobre si mesmo, menos. Primeiro porque não há reta senão curva, o que já obrigaria a mão a tremer ainda que avançasse; depois por que uma barra, uma fronteira, não obedeceria a isso? Um traçado que é o desenho de um som que é uma escrita de um sentido que não quer dizer absolutamente nada isolada. Mas isso circula um vazio e dá em signo, algo que só passa a existir se for contabilizado por ela, e nela. Mesmo o número não adquire qualquer significado senão for articulado à língua. A letra indica uma formalização de uma existência, ela a representa, ela articula em si a mínima pronúncia aproximada a um mínimo significado entortado por um traço que faz fronteira entre o real e o simbólico. Onde há letra, há portanto, saber, sujeito suposto. Como escrever sem traçar?
Como o número a letra é. Das origens nada se sabe dela, pois a instauração do real só se dá em retrospecto. Assim é com a vida, com o universo, com a espécie humana, com o verbo, tudo o que se sabe das origens são pressupostos a posteriori. Nós manejamos a letra como uma massa cuja alfabetização obriga que aolermos assim ela se preserve ainda unidade. Mas é por haver esta duplarticulação que não pensamos numa tripla, que a qualificaria na implicação da superfície onde se escreve (sua terceira dimensão).
A física nos diria que se faço um traço em algum lugar esse lugar deve então entortar-se, mas onde escrevemos no corpo? Se uma letra inscreve em si aquilo que suporta o real ao mesmo tempo em que o instaura como tal, ela toca nele. Agora, seja a em relação a b logo centido. Do simbólico fomos ao imaginário, e assim, fez-se o ente. Mas, do imaginário ao real?
Isto posto. Poderia ser seu nome. Só que a questão não é pôr lá, pra depois tirar o coelho da cartola. É trazer consigo mais um tantinho pra cá, para então poder mostrar. Como fazê-lo senão escrevendo a partir do que se inventa?
Psicólogo clínico, especialista em Teoria Psicanalítica e em Neuropsicologia. Atende em Caçador e União da Vitória. giuliano.metelski@gmail.com
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