A Praça Hercílio Luz
As remotas lembranças da década de 1940, até meados da de 1960, me reportam a muitos hábitos dos cidadãos portouniãovitorienses que se modificaram, se extinguiram com a passagem do tempo.
A Praça Hercílio Luz foi o centro da concentração dos cidadãos e local de eventos diversos e de muita importância. Nela, fui testemunha, de campanha política do Presidente Juscelino Kubitschek, do Governador Adhemar de Barros, do Senador Salgado Filho, de outros políticos de expressão. Nela, também, o saudoso Presidente Getúlio Vargas da sacada do Hotel Internacional proferiu discurso quando a caminho de São Paulo, durante a vitoriosa revolução que destituiu o então Presidente Washington Luís.
Lembro que era constituída de duas vias carroçáveis separadas por canteiro com postes de iluminação até próximo à Estação Ferroviária, iniciava na avenida Siqueira Campos e se projetava até o início da rua Visconde de Guarapuava, da Fernando Machado e da XV de Novembro, margeando a Estrada de Ferro. Ao final, a partir da parte frontal da Estação Ferroviária, alongava-se, tomando forma circular, local de canteiros ornados de flores, frondosas árvores, vielas tortuosas e bancos de madeira que serviam a casais de namorados e outros frequentadores.
Aos domingos, dias santificados e feriados, nas vias da praça fechadas ao trânsito de veículos no período da tarde, as moçoilas casadouras e acompanhantes, realizavam “footing” enquanto que os rapazes em especial, postavam-se às margens, muitas das vezes tentando a conquista das passantes. Era o ponto alto do encontro social, onde se mostrava e se era visto, despertava o desejo e era desejado, hoje costume em desuso. E ainda nesses dias, em especial pela manhã, os proeminentes da sociedade se reuniam em pontos para se inteirar das novidades, saborear cafezinho, adquirir jornais, falar de política, como no extinto Café do Isaltino, no Bar do Cunha, no Bar Tropical, na Churrascaria Guairacá. Engraxar os sapatos e comprar jornais na Barbearia do Zeno era direito indeclinável praticado, semanalmente, que, atualmente, desapareceram, uns porque somente eram usados pelos menos afortunados porque substituídos por tênis de marca, outros porque editados digitalmente e lidos em celulares, etc., e o encontro social na Praça terminou, extinguiu.
Naqueles idos dias passados, estavam localizadas casas de projeção cinematográficas, exclusivamente, na Praça Hercílio Luz, como o Cine Colon, o Cine Odeon. Em meados da década de 1950, houve a inauguração do Cine Luz na rua Carlos Cavalcanti, em União da Vitória e mais tarde a construção e reinauguração do Cine Odeon e a construção e inauguração do Cine Ópera, esse já na década de 1960.
Hoje não guarda semelhança a Praça Hercílio Luz com o passado, senão na forma geométrica do contorno, porquanto a prática social desapareceu, tais como as frondosas árvores que serviam de guarida às diversas espécies de pássaros. Inexistem os cafés, as engraxatarias, as barbearias, as bancas de jornais, todos absorvidos pelo desenvolvimento tecnológico, pela mudança de hábitos, pelo modernismo. Restaram tão somente as lembranças e as saudades de época romântica, feliz e mais equânime.
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