A telepática (o desejo do Outro)
A quiromancia protela em direito funesto operar improbidades. Uma: amores mal correspondidos; duas: dores estomacais provocadas por causas insabidas; três: intempéries dissolutas solventes desde telepática procissão; quatro: empinados estados de declínio financeiro; cinco: admoestações acerca do destino. Olhar penetrantemente insensível vislumbra linhas leste oeste e sul. Mais ao norte não. Ela pede um cigarro como quem dá bom dia. Perdoa-se a tosse antes de haver pedido de perdão. Acende pólvoras, fecha os olhos, fuma, inclina-se, observa, atende ao celular – eu disse pra comprar molho, molho! – não pede desculpa – hum… sim… como eu pensei… hum – pede um baralho, recusa, pede outro, recusa ambos, toma um trago, olha ao relógio, coça a barba, semblante exausto. Fita-a profundamente em olhar grave. À sua expressão incógnita, silêncio. Chama a auxiliar, cochicha algo deveras importante em seu ouvido, manda-a que saia. – agora sim – diz em tom reconfortante. – dê-me sua mão – e ao observá-la seu semblante acusa um destino. – tens muito tempo – aquilo não era típico, esperava algo imediato. A essa probabilidade distante soma-se um tranqüilo repouso, pensativamente atenua, declinando o dispêndio. É hora de dar tempo ao porvir, porquanto sabe-se lá. Ela paga, ela confere, ela agradece, ela despede-se, ela se vai. Ela interroga a auxiliar de cima abaixo: é casada? Que futuro a espera? Por que trabalha aqui? Seu olhar parecia contagiado, serviçal mas consciente, imparcial mas seguro, pronto a falar mas mudo. Lembrava a bi da faculdade. Se eu não tivesse engravidado… hoje quem sabe, uma menina e um menino, tempo pra que? Afinal sou jovem, uma velha jovem, uma linda jovem mãe, realizada, bem sucedida na família, vou passar na lojinha, aquela vadia de cabelo ridículo, Deus do céu! Minha filha é linda, minha cara. Quanto será que ele ganha, eu não seria a outra, coitada, tirava ele dela facinho. Você não é assim. O homem é um acessório, ela dizia bem séria, eu acho mais, acho divertido, eles ficam caidinhos (sorrindo). A quiromante (séria) manda que feche a porta, tira a peruca, roda a cabeça pelos ombros e suspira, estrala os dedos grossos, encara a auxiliar fixamente e diz – dê-me um beijo. A auxiliar: eu vi o jeito que você olhou pra ela. A quiromante é paternal, consola-lhe, convence-lhe, insiste, esquecem. Ela canta: bebezinho bebezinho/ tira o dedo da boquinha/ e coloca ele na minha (elas riem). Já que tenho tempo, mas que consulta! E ela nem é bonita, como que ela sabia? Vamos jantar fora hoje. Se eu parcelar dá. Não estou velha né? Vulgar estralar os dedos, e engrossa eles. Vou ligar pra minha mãe. A quiromante exausta, fuma, apaga o cigarro e manda abrir a porta. O dia quase findava ao lento caminhar dela. Vigorosa em seu vestido justo reluziam olhares casados.
Leave a comment