A Trilha do Quilômetro Treze
E mais uma Festa do Xixo movimenta nossas cidades neste fim de semana. Muita comida típica, apresentações culturais, festa e bate-papo devem marcar este que a cada ano se consolida mais fortemente como o principal evento turístico de toda a região. Acontecimento por si só digno de nota e congratulações. Mas que ganha ainda maior dimensão graças à estreia de uma nova atração formulada com o objetivo de oferecer aos visitantes da festa a oportunidade de conhecer um pouco das riquezas naturais e históricas que tanto singularizam Porto União da Vitória: a Trilha do Quilômetro Treze.
Trata-se de um passeio a pé planejado para iniciar-se (caso as condições climáticas permitam) na bela estação ferroviária União, estrutura de mais de setenta anos que já foi palco, em suas várias encarnações, de alguns dos principais acontecimentos de nossa trajetória enquanto aglomeração urbana, sendo concluído com a bela paisagem oferecida pela conjunção entre história e natureza na famosa cachoeira localizada no décimo terceiro quilômetro da antiga Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. Durante a caminhada, os aventureiros serão brindados com belas paisagens e explicações detalhadas sobre as riquezas naturais e históricas do trecho visitado, ensejo valioso para tomar contato com informações importantes infelizmente ainda em larga medida desconhecidas de nossos vizinhos, familiares e amigos.
No que tange à história, os atrativos são realmente numerosos. A começar pela própria estação, erguida entre as décadas de 1930 e 1940 de acordo com os princípios do art déco e que representa, nos dias atuais, um dos mais belos exemplares desta escola artística e arquitetônica. Especial atenção aqui para o túnel subterrâneo que liga suas duas plataformas, um dos raros exemplos de construções do tipo a ligar dois estados federados em todo o mundo. Antes da atual construção, contudo, outra existiu no mesmo lugar, muito mais modesta, de madeira. Embora menor, foi por ela que passaram ilustres visitantes, dentre os quais Getúlio Vargas, a caminho de sua posse como presidente provisório após o movimento político-militar de outubro de 1930. Durante sua estada na cidade o futuro chefe da nação proferiria, a todos que se aglomeravam na praça – outro local histórico de primeira grandeza – seu famoso discurso, do alto da sacada do então imponente Hotel Internacional.
Mais à frente outras construções históricas se destacam. Embora abandonados, os túneis que marcam o caminho pelos dormentes da ferrovia representaram verdadeiras proezas da engenharia de meados do século XX. Projetados para diminuir as desnecessárias – e dispendiosas – curvas do traçado original inaugurado em 1910, representam o resultado dos esforços de centenas de trabalhadores anônimos, que se não receberam a justiça de figurar em nossos livros e manuais didáticos, moram em nossos corações como pais, avós e bisavós de muitos dos atuais moradores de nossas cidades. Em Engenheiro Melo a história mais uma vez se faz presente, desta vez através de um projeto frustrado. Às casas construídas ao lado da linha com o objetivo de atrair novos moradores não se uniram outras, e hoje toda esta bela porção de Porto União estaria completamente abandonada não fosse o denodo com que é preservada por admiráveis voluntários.
Mas não prossigo com a narrativa. Prefiro deixar aos condutores do passeio a tarefa de apresentar, de modo muito mais agradável e atraente, a riqueza histórica que marca este curto trecho de treze quilômetros que será percorrido na manhã do próximo sábado. Sem dúvida alguma vale a pena reservar algumas horas para entrar em contato com nosso passado e com nossas riquezas naturais tão encantadoras e surpreendentes. A esta iniciativa pioneira outras haverão de seguir. Com o que todos nós só teremos a ganhar.
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