A Um o que é de dois
O simbolismo carrega consigo a história, e não é à toa que o termo inconsciente coletivo, nomeado por Jung, caia tão bem. Há saber nos símbolos, e onde houver seus resquícios, suposto sujeito. A natureza fornece o significante, basta olhar para o céu, cabe ao sujeito interpretá-los. Onde se assenta o litoral do real ao simbólico existe um insabido fundamental, cujo intérprete se interroga, a respeito das origens, dos fins, dele mesmo, enfim; é onde se insere um significante primordial, que representará um sujeito, para outro significante. É a própria função contar, como tenho chamado. Há então, uma alienação fundante na irrupção do simbólico, cuja bateria subsequente remeterá, em retrospecto, a uma outra função, de nomeação, tal como ocorreu a Adão, mas que tem seu limite exatamente no real: o impossível. Deus, aquele cujo nome não se diz, representa nessa tradição, assim como na grega, esse real. Só que, como acontece com a Natureza, quando o nomeamos, nós o matamos um pouco. O limite da metáfora, e não a metáfora do limite impõe que o desejo de saber queira avançar mais, só que pela via significante o saber é refém do simbólico. Por isso a interpretação é o desejo. Jung era um excelente psicólogo, talvez o maior de todos, porque fez o que um psicólogo faz, ele explorou o sentido no sentido do imaginário, onde as constelações, elas não têm jamais limite. Ele fez metáfora do limite. Ele nomeou a imagem. Só que ao supor que o símbolo não seja tão arbitrário assim, que ele repasse um saber insabido ao sujeito suposto, ele só pode arrematar à origem, da origem, do símbolo, fazendo escavação do sentido. Os linguistas combinaram, disso aí, origem da linguagem, não se fala ok? E por que? É sem saída. Só há saída na e nenhuma fora da metáfora. Você joga o molinete pra trazer o peixe. E peixe, ora, só pode significar no dicionário mitológico que peixe, ora, o peixe representa uma gama de significados. Nem saímos um milímetro do imaginário, da representação de um símbolo dado dotado de significado mais ou menos fixo, onde o sujeito é o peixe, o molinete é a representação. Pouco importa, na constelação ele se identificará, largará por aí, se apegará mais a uma imagem narcísica que a outra, pouco importa, ele sempre estará onde pôs o coelho. Como não há metalinguagem, e o desejo do homem é o desejo do Outro, isso só poderá recair em um lugar. Jung é um católico bem diverso de Joyce. A Joyce foi ofertado uma coisa dessas, queriam que se analisasse com Jung pra ver se dava N’Um. Não deu. Porque Joyce opera, no limite da metáfora, é artista, não vê no inconsciente uma verdade universal revelada, mas onde ela vacila, cansado desse inchaço, ali onde há meta fora do sentido dado há real mente a ser criado algo. Há uma ética da psicanálise – Joyce não era analista, tinha repulsa – que não cede diante desse nada. O sujeito habita a linguagem e o ego, essa invenção espantosa, sintoma de cima abaixo, a imagem. Se há imagem da unidade ei-la. A ilusão não está na divisão, sua certeza é um passo depois: há o silêncio só depois de silenciar. Restituir lá na origem a função 1, unidade, é empurrar o ego pra lá, para reencontrá-lo, depurado, sob o cosmos, um dia. É o narcisismo elevado ao divino. Não que não sejamos todos um, um a um, ao menos.
Psicólogo clínico,
especialista em Teoria
Psicanalítica e em Neuropsicologia. Atende em Caçador e União da
Vitória.
giuliano.metelski@gmail.com – WhatsApp: (49) 99825-4100 / (42) 99967-1557.
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