A vida é feita de velhas canções
Há um ótimo filme de Lawrence Kasdan, Grand Canyon, em que um personagem fala para o outro, mais ou menos isso: você não tem uma maior compreensão da vida, porque ainda não viu filmes suficientes. Verdade. Mas poderia acrescentar ainda, que a vida, comprendida ou não, é feita de velhas canções.
Com esse pensamento, eu e meus amigos Malu Longhi, Orleans Antunes de Oliveira Filho e Marco Benghi, com mais alguns convidados especiais, vamos nos reunir em fevereiro para um jantar cujo cardápio será: As músicas de nossas vidas. A idéia é que cada um eleja as 30 canções de suas vidas e que serão apresentadas, e, é claro, ouvidas, durante o encontro.
Como contei na crônica aqui publicada há alguns meses e intitulada A música do acaso, a década de 70 foi pródiga em música e em fazer amigos, por meio dela. Assim foi com Marco Benghi e Malu Longhi.
Marco, no início dos anos 80, como eu, também tocava em festas.
Eu, Nivaldo, Paulinho e Rúbio, tínhamos o Alucinasom e Marco e Oldemar, seu primo, o Fireball. Como narrei na outra crônica, eu era mais eclético e transitava com a mesma desenvoltura do rock ao soul, passando pela MPB e começando a me incursionar pelo jazz, enquanto eles eram rockeiros de carteirinha. Gostavam, principalmente, de rock progressivo e como eu, nossa banda favorita era o Pink Floyd. Marco hoje reside em Itajaí e conversamos, esporadicamente, pela Internet e desde agosto do ano passado, quando decidimos promover encontros dos velhos amigos. O principal assunto, como não poderia deixar de ser, é a música.
O mesmo se dá com Malu Longhi, que a exemplo de Marco, também nutria paixão pelo rock’n roll, embora hoje todos dois ouçam também muita MPB, jazz e soul. ‑
Malu na época, traria uma fita cassete de São Paulo com músicas soul, entre as quais a bela balada de Jimmy Helms, Gonna make you an offer you can’t refuse.
Eu e Malu trocamos muitos e mails, sempre recheados de músicas. Dias atrás ela me enviou a fantástica Años de soledad, de Astor Piazzolla, com o próprio no bandoneon e Gerry Mulligan, no sax barítono, me perguntando o que achava e que ela só conseguira defini-la como sublime. Nunca havia conversado com Malu a respeito dessa canção, que também acho sublime e, certamente, fará parte das minhas 30 mais belas canções da história. Acho que o disco Summit, de ambos, é um dos 10 melhoes da história do jazz.
Ainda esta semana enviei à Malu uma gravação da belíssima Futuros amantes, de Chico Buarque, com Angela Ro Ro e que pra mim é a mais bela interpretação dessa, igualmente, maravilhosa canção. Ela havia visto o show do Chico em dezembro, em Curitiba, e, após receber a música por e mail, me respondeu dizendo que ela fôra o bis no show do domingo. Não há como não evocar, mais uma vez, a teoria do acaso, da qual sou adepto.
Estou terminando o texto teatral para o Núcleo de dramaturgia do Sesi e seu nome é What’s new, em homenagem a outra das canções que comporá meu top 30, e, que conforme aqui já relatei, a gravação com a até então cantora de country music, Linda Ronstadt, conheci na casa de meu amigo Orleans Antunes de Oliveira Filho, no início dos anos 80, o que motivou, como também aqui já narrado, a homenagear Orleans, com a magistral interpretação de Saul Trumpet, Gersinho Bientinez e Fernando Montanari, quando eles aqui estiveram.
Como Malu me disse dia desses:
;- “ A música faz parte de minha vida”, digo o mesmo e por isso estamos organizando o encontro em que elegeremos as canções de nossas vidas.
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