A Visita – o verdadeiro retorno de Shyamalan
****esse não contém spoilers!
Eu tenho que dizer que cometi uma injustiça dia desses. Recentemente eu escrevi sobre a carreira do M. Night Shyamalan e falei que Fragmentado era seu voo da Fênix, o ressurgimento de uma carreira. A injustiça se encontra no fato de que é bastante provável que ele só tenha podido fazer um filme de maior orçamento e com um ator bastante conhecido no papel principal por ter feito um filme mais barato e com relativo sucesso antes. Independentemente da crítica ter se dividido muito, com algumas resenhas dando quatro estrelas e meia ao filme, enquanto outras davam apenas uma, A Visita fez algum burburinho e deu uma levantada na carreira decrépita pós-Depois da Terra do diretor e roteirista.
Talvez seja a estória mais simples já escrita por Shyamalan. Dois irmãos adolescentes vão passar uma semana na casa de avós que não conhecem e que cortaram relações com sua mãe quando ela tinha 15 anos e fugiu de casa. A princípio a mãe não quer permitir que os filhos vão, mas depois lhes concede autonomia para decidir e eles escolhem ir. Mal sabe ela que a visita é um plano deles para que ela possa viajar com o namorado nesses dias, num cruzeiro. Além disso, a filha mais velha tem obsessão por realizar um documentário sobre a vida da mãe, sobre o elixir que fará com que ela acredite que sua vida pode dar certo: o perdão dos pais depois de tantos anos. A menina acredita que pode construir uma estória documental de redenção, sem resvalar para o melodrama e a manipulação rasa de sentimentos e enquanto planeja o cronograma e realiza o roteiro vai explicando ao irmão mais novo sobre ética cinematográfica, planos e enquadramentos. Traduzindo assim um sentimento muito honesto de uma cineasta (ou mesmo do próprio Shyamalan) com sua obra. O discurso da narrativa cinematográfica embutido no próprio filme é um de seus pontos altos. Em contrapartida o menino mais novo, de treze anos, ambiciona se tornar um rapper, o que serve como alívio cômico em momentos mais tensos do filme e faz com que além de tenso ele seja engraçado e divertido.
Como os irmãos estão rodando um documentário, o filme se encaixa no gênero found footage, que Shyamalan subverte do início ao fim, usando o próprio subgênero como um clichê ao lado de tantos outros: porões escuros, sustos inesperados, perseguições com pessoas cabeludas, etc. Mas ao assumir os vários clichês e utiliza-los como meio de injetar adrenalina na estória, Shyamalan cria algo quase sublime. E ao se deter na filmagem pela perspectiva de quem filma, quase sempre fora de quadro nas cenas mais tensas, também somos pegos de surpresa por diversas imagens aterradoras. Os únicos momentos que fogem do estilo são os quadros que nos informam os dias da semana, com imagens de neve e árvores do local onde estão e em letras vermelhas garrafais os dias da semana, começando pela terça-feira, quando chegam na casa dos avós. Isso faz com que a tensão aumente, já que sabemos desde o início que a viagem durará só até sábado e a estória toda deve ir se intensificando até lá.
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