As cores de abril
Em setembro de 2014, minha filha, Mayara, me trouxe de Nova Iorque, de presente do Dia dos Pais um Kindle Fire, que é um e reader da Amazon. O Kindle Fire, não é apenas um reader, mas é também um tablet e que veio com o recurso de áudio. Bastava dar um play e podíamos ouvir a narrativa de um livro. Formidável, li, ou melhor, ouvi muitos livros assim, menciono só para ilustrar, a trilogia 1Q84, de Haruki Murakami, de quem já havia lido Após o anoitecer e Minha querida Sputnik. Da noite para o dia o play desapareceu e não pude mais ouvir os livros. Tentamos de tudo, Mayara mandou um e mail para a Amazon dos EUA e a resposta foi muito evasiva. Eu fui até a Livraria da Vila em São Paulo, para ver se obtinha alguma informação, já que ela revende o Kindle, nada e o Fire até abril do ano passada ainda não era vendido no Brasil. Descobri o telefone da Amazon do Brasil e liguei. O atendente disse que o recurso de voz havia sido retirado e que só era disponível nos EUA, mas que quando o Fire fosse lançado no Brasil, tal recurso deveria voltar e que isso provavelmente deveria acontecer em 2016. Fui até a Livraria Cultura em Curitiba, para ver o funcionamento do Kobo Fire e ele também não dispunha de áudio. Ávido por voltar a ler/ouvir, saí em busca de e books e para minha decepção e tristeza, constatei que o número de títulos disponíveis é muito pequeno. Diante disso, passei a depender da leitura de Margarete e assim fomos lendo juntos, com se eu fosse um Jorge Luis Borges e ela, Maria Kodama, que lia para Borges, o maior escritor argentino, já totalmente cego.
Dias atrás recebi a visita de meu amigo Roberto Domit que me sugeriu alguns programas voltados para os deficientes visuais e na mesma semana encontrei Beto e seu filho Gabriel. Contei a Gabriel de minha já quase saga com o Kindle e ele me disse que também comprava livros na Amazon e que todos os e reader, tablet e i pad possuem um recurso de áudio, bastando você selecioná-lo nas configurações de acessibilidade.
Ao chegar em casa dei o Kindle para Mariana, que é hábil com essas coisas e ela rapidamente, seguiu as orientações de Gabriel e restabeleceu o áudio. Formidável. Dali em diante já li/ouvi, três livros e estou “lendo”outros dois, Comecei com Submissão, de Michel Houellebeck, em que o autor narra o avanço do partido islâmico, num futuro próximo, 2022, ano em que chega ao poder e subverte a ordem social. O livro nos dá noções básicas sobre o islamismo, como por exemplo, o casamento poligâmico e a submissão da mulher ao homem e deste a Deus, justificando aí o título da obra.
Depois foi a vez de O leitor do trem das 6h27, de Jean-Paul Didierlaurent. Leitores inveterados como eu tendem a gostar de histórias em que os protagonistas têm algum tipo de relação com os livros, o que ocorre neste caso. O livro é sensível, a história é contada com delicadeza, mas demasiadamente previsível e daí um pouco açucarada para meu gosto. Mas vale a pena apesar disso.
O terceiro que li foi O verão sem homens, de Siri Hustyedt, o melhor dos três. A história começa a partir do abandono da protagonista, Mia, uma mulher de 55 anos, poeta, que repentinamente, é deixada pelo marido, que pede uma pausa conjugal e vai embora. Mia mergulha em um profundo transtorno psicológico e ao emergir das fundas águas de seu transtorno, decide ir morar em uma pequena cidade de Minesotta, onde vive sua mãe já com quase 90 anos.
Lá Mia irá transitar entre o grupo de nonagenárias amigas de sua mãe e um grupo de pré-adolescentes, para quem ministrará uma oficina de poesia. Gravitando entre estes dois polos, Mia vai, aos poucos, encontrando novos sentidos para sua vida. Memorável.
Passei o último final de semana na casa de Nina Rosa e Camila, em Curitiba e é claro que levei o Kindle. Contei para elas que havia, graças ao Gabriel, que estudara com Nina, na Luterana, recuperar o áudio e indaguei minha filha, se o mesmo processo não se daria também a outras leituras, como a de jornais, por exemplo. Nina e Cami examinaram o Kindle e verificaram que é possível. Dessa forma retomei, imediatamente, a leitura da Folha de São Paulo e do Estadão.
Agora estou lendo o romance, Trem noturno para Lisboa e a excelente obra de não ficção, de Elizabeth Kolbert, A sexta extinção, que explicita e nos alerta dos malefícios que o homem, ao longo dos séculos e principalmente, nos últimos anos vai impondo ao nosso pobre planeta. Obra obrigatória para quem pensa em preservar nossa mãe terra. Ainda dá tempo.
Obrigado Gabriel.
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