Caríssimos ouvintes obrigado
Em 1979, fui convidado por Lari Bogus, então gerente da Rádio União para assumir a programação daquela emissora. Naquela época as FMs ainda não haviam chegado à cidade e a ideia de Bogus era imprimir uma cara de FM a uma AM, diferenciando-a assim de suas concorrentes locais.
Com 20 anos de idade e amante da música e com razoável conhecimento dela, topei na hora o desafio.
Num primeiro momento, o mais difícil foi dissuadir os sonoplastas a seguirem minha programação, já previamente determinada e com isso esquecer clássicos do brega, como horrível Feiticeira, um dos maiores hits do mundo brega da época. Durante o dia o controle era mais fácil, porque eu estava na rádio, onde a discoteca, que era onde eu trabalhava, ficava atrás da sonoplastia e a parede que nos separava, possuía uma imensa janela de vidro. O problema estava na programação noturna, que para a infelicidade dos sonoplastas, que insistiam em burlá-la, tocando os hits do brega, era por mim ouvida em minha casa. Diante disso, fui obrigado a deixar na sonoplastia apenas os discos, cujas músicas estavam programadas e ainda fechava a discoteca com a chave. Funcionou.
Institui alguns programas e os inseri na programação normal, como Música Popular Brasileira, das 15 às 16h, e Rock`n Roll das 23 às 24h, último programa da noite, pois após seu término a rádio saía do ar.
No período da tarde o DJ era Samuel Canfield, o Samuca Times, uma homenagem a Cascalho Times, da Rádio Continental de Porto Alegre, uma das emissoras mais bacanas da época e que desde o início dos anos 70, já fazia uma programação de FM em uma AM.
Samuca era um DJ descolado e foi em seu horário que tocamos pela primeira vez o hino Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, que fora proibida pela ditadura militar e liberada em 1979, no mesmo pacote que liberou outras canções, livros, peças de teatro e filmes como os célebres O último tango em Paris e O império dos sentidos. Foi também no horário de Samuca que institui o Biplex e o Triplex, que consistia em tocarmos duas ou três vezes em seguida, uma canção que acabava de ser lançada e que gostávamos muito. Ainda lembro-me de três canções que figuraram no Triplex, a bela balada You take my breath away, com Rex Mith e as pra lá de lindas e emblemáticas, Não chore mais, uma versão, de Gilberto Gil, que se tornou clássica da igualmente clássica, No woman no cry, de Bob Marley e O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. Ambas também vieram no bojo da liberalização do regime e o criticavam, com suas belas letras de cunho social, mas de alto lirismo poético.
Quem também era DJ nessa mesma época era Gilberto Dombroski e que a exemplo de Samuca, também possuía ótimo gosto musical e assim me ajudaram a banir o brega, daquele período em que lá estive e que foi do início de 79, até meados de 1980, quando Bogus um dia me chamou e disse que precisava popularizar a programação. Disse-lhe que eu não era a pessoa mais indicada para isso e de comum acordo, deixei a rádio.
Parafraseando a canção de Beto Guedes, despeço-me dizendo: Caríssimos leitores obrigado, essa coluna se encerra agora, mas de teimosa, volta semana que vem.
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