Caros leitores
Dias atrás recebi um e mail bacana de minha amiga Carmem Camargo.
Ele, o e mail, falava de filhos e a certa altura, já em seu final, dizia que aprendemos a ser filhos depois que formos pais e que só aprendemos a ser pais depois que formos avós.
Interessante reflexão. Se pensarmos bem ela é bastante verdadeira. Porque quando somos filhos, na maioria das vezes, não entendemos nossos pais e só o faremos, plenamente, quando também formos pais.
Da mesma forma, só aprendemos a ser pais, quando formos também avós.
A lógica é a mesma.
Mas aproveito a oportuna reflexão que o referido e mail me suscitou, para fazer outra que me remete a um ótimo artigo escrito pelo, igualmente, ótimo, João Pereira Coutinho, que escreve às terças-feiras na última página da Ilustrada da Folha de São Paulo. Em seu artigo de terça-feira, 28 de abril, Coutinho escreve sobre o fim das cartas, sobre a morte delas.
Vou mais longe, talvez não sejam apenas as cartas que estão morrendo, mas nossa capacidade de nos comunicarmos e, principalmente, de fazê-lo de forma reflexiva.
Serei mais específico dando um pequeno exemplo: o e mail a que me referi no início desta crônica, enviei a alguns amigos, todos, pais, mães ou avós, sabem de quantos, caros leitores, recebi qualquer tipo de comentário, de nenhum.
Constato a cada dia com mais exatidão, que, gradualmente, perdemos a capacidade de nos expressar. De fato as cartas eram uma das melhores maneiras de nos comunicarmos. Mas o e mail, deixando certo catastrofismo baudrillardiano de lado, também pode ser, mas acaba não sendo a forma ideal de comunicação.
Porque como as cartas eles também estão sendo deixados de lado.
Explico da seguinte forma: Pergunte a qualquer pessoa, ou a si mesmo, quantos e mails com dúvidas ou reflexões pessoais, você enviou esta semana? Sem considerar os textos já prontos que você recebe, diariamente, e os reenvia. Fiz tal pergunta a algumas pessoas e a resposta foi quase unânime, nenhum. Essa constatção será ainda pior ou pelo menos igual, se perguntarmos quantas vezes nesta semana conversamos com nossos próximos, mulher, marido, filhos, outros familiares, ou, amigos, outros assuntos que não sejam os mais banais possíveis, ou de trabalho ou sobre como andam o Brasil e o mundo.
Sem querer ser pretensioso ou pessimista, acho que muito pouco.
Residiria no crescente processo de incomunicabilidade a brutalização do cotidiano, ou talvez, a enorme carga de informações que recebemos pela televisão, jornais, rádios, e, principalmente, pela Internet, fazendo com que esqueçamos de nós mesmos?
– Não sei. Sei apenas que estamos, efetivamente, perdendo nossa cognição do outro que nos cerca, e, talvez até de nós mesmos.
A Internet e seus modelos mais comuns de comunicação, como o e mail, MSN e sites como o Orkut, ao invés de encurtar distância, embora, evidentemente, o facam, estaria desertificando o social e esvaziando os espaços urbanos?
‘Com o título de uma velha canção da banda soul War, encerro esta crônica: Deliver the word.
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