Churrasco no torneio da melancia em Paula Freitas
COISAS DA BOLA são fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outras frutos da minha imaginação. Qualquer semelhança será puro acaso.
O final de semana prometia. O famoso torneio da melancia em Paula Freitas seria realizado com número recorde de esquadrões, isso era divulgado nas emissoras de rádio das cidades irmãs. Eu, juntamente com uns boleiros da época, fomos contratados pelo senhor Melquides para jogarmos na famosa competição. A promessa feita pelo dono da agremiação é que como pagamento ganharíamos um almoço a base de churrasco regado à Tubaína. Só de pensar num churrascão ficávamos com água na boca. No domingo bem cedinho, conforme o combinado, nos encontramos em frente da Rodoviária de Porto União na Praça Hercílio Luz. Todos embarcados em duas Kombis nos dirigiram até o município de Paula Freitas. Antes do meio dia já tínhamos vencido duas contendas e éramos visto como campeões, pois o nosso quadro só tinha cobras. Terminado os duelos na parte da manhã, só pensando no desejado churrasco e nas gasosas, nos dirigimos ao lado do salão paroquial onde as Kombis estavam estacionadas. O cheiro de churrasco estava no ar. Percebemos alguns dirigentes e atletas de outras equipes, acampados ao redor do salão paroquial degustando aquela carne frigindo e, aquele cheiro aumentava a água na nossa boca.
Maior surpresa foi quando o dono do nosso quadro tirou de dentro do porta-malas de uma das Kombis um monte de tijolos e um panelão cheio de risoto. Com os tijolos armou rapidamente algo parecido com uma churrasqueira. Retirou um pouco de gasolina do tanque e jogou em cima de um saco de carvão e ateou fogo. Quando o carvão já estava virado um brasido, colocou o panelão de risoto para esquentar. Enquanto o risoto esquentava a sua esposa fazia uma jarra de Q-suco. Naquela altura do dia a fome já era grande, pois já tínhamos peleado duas vezes. Insatisfeitos e irritados por termos sido enganados tivemos que comer o risoto e tomar o dito refresco. Muito brabos, quando entramos no tapete verde, na parte da tarde, o resultado já estava definido. Em conversa reservada tínhamos decidido que faríamos corpo mole e entregaríamos o confronto em represália pela sacanagem que o seu Melquides tinha feito conosco. Fomos eliminados do torneio ao tomar um balaio de tentos. A partir da eliminação vergonhosa e do fiasco, pois andávamos dentro do campo de jogo como uns zumbis, tanto é que o dono do quadro queria nos deixar lá. Após um tremendo bate boca, ouvíamos sempre do dono do “escrete”, que o que era nosso estava guardado. Com ele na boléia, entramos em uma das Kombis e viemos embora, num silêncio total. Quando estávamos chegando perto da ponte dos Arcos, na entrada das nossas cidades, o dono do time parou a Kombi, puxou um facão que estava embaixo do seu assento e nos obrigou a descer. Xingou-nos bastante e partiu o veículo queimando pneus. Foi embora esbravejando e dando tiros para cima. Foi aí que amoleceu o nosso garrão e, durante o trajeto a pé até nas nossas casas, lá do outro lado de Porto União, comentávamos a grande tragédia que poderia ter acontecido, pois alguns de nós, por pouco não foi na lã do dono do time, com certeza alguém teria o couro furado, isso se não tivesse secado a quirera (se finado).
No final de semana seguinte tinha um torneio no Campo do Nacional, praça esportiva situada em frente da Madeireira Miguel Forte, ali onde hoje é o cemitério Jardim da Saudade. No domingo pela manhã, pela estrada de ferro, saindo desde a estação ferroviária, ia aquela chusma de piás em direção ao torneio, inclusive nós os piás que participamos do torneio da melancia em Paula Freitas. Nesse torneio eu estrearia um Kichute que ganhei de um professor do Colégio Cid Gonzaga, pois na inauguração da quadra de cimento, ao usar o referido Kichute, o professor tinha quebrado o tornozelo. Imaginem o professor jogando futebol de salão com um Kichute. Acho que saiu barato aquele tornozelo quebrado.
Quando estávamos chegando vimos aquela Kombi conhecida e demos de cara com o seu Melquides. Frente a frente, ele com medo de nós e nós com medo dele. Tomando coragem ele nos dirigiu a palavra e pediu desculpas dizendo que não pagou o churrasco lá em Paula Freitas, porque o amigo dele que ia ajudar nas despesas deu para trás já no sábado e, não restando outra opção, durante a noite sua esposa preparou o risoto para comermos no domingo. Disse ele ainda, que não nos contou antes de sairmos lá de frente da rodoviária de Porto União porque tinha certeza de que não embarcaríamos na Kombi. Com os pingos nos “ís” e feita as pazes fomos disputar o torneio, ele comandando o seu time e nós atuando pelo América que era treinado pelo Frank Polika. Nenhuma das agremiações decidiu o torneio. A parte boa foi na hora do almoço, o Sr. Melquides nos brindou com vários espetinhos de xixo, que regado à Tubaina, também pago por ele, desceu redondo.
No final da tarde com o campeão conhecido, meio que em fila indiana, aquela chusma de piás retornava pela estrada de ferro com destino ao centro das cidades de Porto União da Vitória e, nós, ainda com o bucho cheio de xixo.
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