Como os três mosqueteiros nós também éramos quatro.
No final dos anos 80, estreitei minha amizade com José Antônio Wengerkiewicz, o Tite, José Antônio Buch, o Zico e Luís Olavo Contin, o Zinho. Passamos a nos frequentar com assiduidade e também, com mais alguns amigos compúnhamos uma turma de jantar, da qual ainda guardo certas lembranças se não muito engraçadas, no mínimo insólitas.
Uma dessas aconteceu na chácara de seu João Buch, pai de Zico, na amada Lança, como este dizia. Lá pelas tantas, já após o jantar e algumas doses de Red Label, acompanhadas de algumas poucas, nem tão poucas, birras, eis que surgem por lá alguns outros amigos desacompanhados, solteiros que eram, enquanto nosotros éramos casais. O jantar era um encontro de casais e algumas das mulheres, até acho que todas, ficam indignadas com aquelas incômodas presenças, o que acaba resultando em uma discussão mais ou menos acalorada. Como eu não sentia nenhum desconforto na presença dos solteiros, tentei apaziguar os ânimos um pouco exaltados. Vã tentativa, a divergência avançava. Aí pensei em uma inusitada intervenção naquela discussão e saí da casa em busca de inspiração para tal, e, eis que atrás da casa me deparo com uma placa de trânsito com o sinal pare, encostada em uma árvore. Aproprio-me do objeto, depositando-o sobre um dos ombros e irrompo casa adentro, como um profeta, não do apocalipse, mas da concórdia e entre olhares estupefatos e estrondosas gargalhadas, apaziguo os ânimos, pregando a união entre os diferentes.
Em outra ocasião em um jantar na casa de Marilene e Zico, em plena vigência do verão, eis que acaba a cerveja, imagino que lá pelas duas da madrugada. Nada restava senão sair e comprar outra caixa, mas onde encontrar naquele horário? Acho que era um período em que o Peixe Frito, então, Bar do Lucas, estava fechado. Alguém deu a ideia de irmos à rodoviária e lá fomos nós carregando o engradado. No caminho alguém teve a, “brilhante”, ideia de irmos ao Floresta, uma casa noturna muito movimentada na época. A ideia foi, imediatamente, acolhida por todos e lá fomos nós atrás do precioso líquido, no Floresta.
Ao chegarmos, dissemos na portaria que não iríamos demorar que apenas compraríamos cerveja e iríamos embora e que dessa forma desejávamos ser dispensados do pagamento do ingresso de entrada.
O porteiro concordou, mas olhando para Zinho, disse: ele não pode entrar sem camisa. Eu então indaguei, ele não pode entrar sem camisa? Enfatizando. O porteiro respondeu que era isso, ao que argumentei, tirando minha camisa e passando-a a Zinho. O porteiro esbugalhou os olhos e não entendeu o que estava acontecendo. Expliquei: O senhor disse que ele não poderia entrar sem camisa e não falou que outros de nós também não podiam, assim, vamos entrar. O porteiro até achou engraçado e disse algo como, valeu a tentativa, mas sem camisa não entra. Peguei de volta minha camisa e pedimos ao Zinho que esperasse no carro, pois não iríamos demorar.
Pois não é que acabamos nos demorando um pouquinho e quando voltamos, Zinho tinha sumido. Procuramos por ali e nada e perguntamos uns aos outros, será que o desgraçado foi embora? Pensamos um pouco e chegamos à conclusão que ele deveria estar lá embaixo, no edifício onde moravam, tanto, Zico quanto ele próprio. Passamos em frente ao prédio e nada dele, que também não estava na garagem, tampouco na portaria. Subimos pensando o que iríamos inventar para justificar que havíamos nos perdido de Zinho. Ao entrarmos na sala eis que lá estava o sujeito, e as mulheres furiosas conosco. Demos alguma desculpa esfarrapada, como, era o único lugar aberto e estava muito cheio, por isso demoramos. Logo depois já sozinhos os quatro, perguntamos: Por que subiu, por que não nos esperou lá embaixo, ou lá no Floresta mesmo?
Respondeu que estávamos demorando muito e que começou a ficar preocupado e decidiu voltar a pé, mas que iria esperar lá embaixo, mas elas estavam na sacada e o viram chegar a pé e tomado de surpresa, não soube o que inventar e contou a verdade. Rimos disso até hoje.
Mas talvez uma de nossas melhores performances tenha acontecido não lembro bem se na última noite de carnaval de 90 ou 91. Resolvemos fazer um churrasco, só os homens, na Barra Feia, onde seu Ari Wengerkiewicz, pai de Tite, tinha um rancho de pesca. Fomos os quatro, mais o seu Ari, grande companhia e de saudosíssima memória. Munidos de uma infinidade de cervejas e mais alguns litros de uísque e da carne é claro, fizemos um ótimo programa pré-carnavalesco e voltamos quase na hora de irmos para o clube. Muito animados pelos scotches que eu e Tite gostávamos mais e pelas cervejas, que Zico e Zinho gostavam mais, acabamos lá pelo final da madrugada, assumindo parte da percussão da banda e tocamos , sei lá de que forma, até o sol raiar.
Belas lembranças de um quarteto que se não era de mosqueteiros, era fantástico.
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