Crônica da Saudade – Nalu
Ano XII – Novembro/1966 – Número 154
Tudo perdeu o seu encanto com a tua retirada voluntária de minha vida. Tudo ficou de repente, cinza, preto, nem sei mesmo de que cor.
Só sei que nada mais é azul ou rosa, como antigamente e, – engraçado – tu não eras meu namorado, noivo, nada além de amigo, um grande e bom amigo.
No entanto, foi como se eu tivesse perdido o meu único amor. Meu coração se ressentiu de tal modo, que receio não tê-lo outra vez sentimental, pulsando ardentemente como outrora. Ardente, como por exemplo, quando recebia tuas poesias, tuas visitas… teus presentes que me falavam do teu afeto e amizade por mim… Ah! Relíquias que conservo comigo como tesouro de inestimável valor.
Não sei exatamente, qual a razão desta terrível e angustiosa sensação de dor, de sofrimento quase físico, de mágoa intensa, imensurável.
Foste embora, deixando em minha alma um sulco profundo de dor.
Podes devolver o que te dei. Minhas poesias, meus livros… Mas não poderás devolver minha imagem – é o meu consolo. Minha imagem que dizias – e tu nunca mentiste – viver constantemente em teu coração, ela está – sim – bem viva, bem forte, gravada em tua alma.
Por maior que seja tua força de vontade, não será superior à força poderosa do coração, que tudo vence, tudo arrosta, tudo supera..
Sei que nossas almas estarão ligadas até a morte. Quanta coisa me lembrará de ti… quanta coisa te lembrará de mim. Ao contemplares um céu azul com nuvens brancas… ao veres uma pombinha branca voando… ao contemplares ma rosa vermelha… ao admirares o pôr-do-sol… quando os raios riscarem o espaço em noites tempestuosas… ao veres a lua passear no espaço derramando sua luz leitosa sobre a terra… ao ouvires várias melodias… ao leres minhas poesias… ao leres tuas poesias… nunca poderás me esquecer… nunca… jamais. É por isso que no morrer do dia, quando a lua entorna sua luz de prata sobre as flores do meu jardim com as rosas de Santa Terezinha, onde fico à tua espera, um sorriso vem me aflorar aos lábios é a certeza de que apesar da distância, eu sei que ainda pensas em mim. Sofro sim, mas não estou sozinha nesse sofrimento… e tu não eras meu namorado, nem noivo… apenas um grande amigo.
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