Crônicas que não rasguei
M. Daluz Augusto
(In Memoriam)
Na onda cada vez maior de infelizes que entre a multidão perambulam mendigando ma esmola, solicitando farrapos com que possam ocultar ao mundo a sua miséria, esses desgraçados, para os quais muitas vezes a piedade não existe, surgem duas espécies verdadeiramente distintas: uma percorrendo as ruas das cidades estende as mãos súplicas, entoando um rosário de lágrimas e lamentações. A outra, ao contrário, é a dos que sofrem com paciência e humildade todos os revezes da sorte e, silenciosos, sem um queixume, sem o menor vislumbre de revolta, encolhidos a um canto, aguardam com um chapéu nas mãos, os olhos marejados de lágrimas, a cobiçada esmola para matar a fome. Essa esmola, porém, muitas vezes não vem. Enquanto o pai ou a mãe pede esmolas, os filhos pequeninos choram de frio e fome, atirados ao fundo de um casebre infecto, escuro, onde apodrecem como flores sobre águas lodosas.
Para essa espécie de desgraçado, não é necessário a impertinente lamentação, a repetição perene da mesma ladainha que constantemente fere os ouvidos dos passantes. Basta apenas olharmos o seu triste espectro, a exposição vergonhosa de um membro mutilado, Isso já é o suficiente para tocar o coração de qualquer pessoa.
Entretanto, pessoas há que, mesmo podendo dar esmolar, encolhem os ombros e dizem irônicas: “Ora, eu não dou nada… vá andar, vá ajudar, vá trabalhar”. Para logo adiante, perderem fortunas e mais fortunas em bancas de jogos de azar.
Se não desejam dar esmolas, fiquem calados. Não digam nada, não ofendam quem já pratica a humilhação que é pedir!
Se não desejam consolar um pedinte, se lhe negam o “consolo” em dinheiro, digam algumas palavras… custa tão pouco uma palavra boa. Muitas vezes ela faz feliz aquele que a diz e o que a recebe.
Num tempo que longe vai, um moço formoso, muito manso e muito humilde de coração, disse no lago de Tiberíades: “Bem aventurados os pobres, porque deles é o reino dos céus”. Frase velha quanto à data, mas sempre atual quanto ao conteúdo.
Jesus não quis dizer com isso, que os ricos não vão para o seu reino. Irão sim, com a condição de não adquirirem riquezas senão por meios honestos e não fazendo dessa riqueza a única razão de suas vidas, não se tornando egoístas, orgulhosos e avaros. Dela fazendo bom uso, dando aos pobres mesmo os que lhes sobra.
“De todas as obras, a mais eficaz para obtermos o perdão dos nossos pecados e a vida eterna, é a caridade feita às crianças”. (Dom Bosco).
Lulu Augusto –
Ano VI –
Número 79 –
Junho de 1960
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