De pai para filho
Conheci Ari Passos no início dos anos 70. Quando ele foi meu professor de matemática, no antigo ginásio do Colégio Estadual Túlio de França. Meu primeiro contato com ele se deu por meio de uma gizada na cabeça. Se não me engano o menino que se sentava à minha frente, falava sem parar e Ari tentou acertar-lhe com o giz, para que ele ficasse quieto. Ele viu que o projétil vinha em sua direção e se esquivou e o atingido fui eu. Ari era um sujeito bacana, que tentava impor sua autoridade de forma lúdica, nunca de maneira despótica e assim angariava a simpatia de todos, até dos mais introvertidos como eu. Depois eu voltaria a rever Ari, sem no entanto falar com ele, nos festivais do Cid que ele foi o criador.
Já no início dos anos 80, estreitaríamos nossa amizade, quando ele ingressa, efetivamente, no ramo do comércio, primeiro com a Pink, e, depois com a Moda Vida e a Bem me quer. Lembro com clareza que quando minha tia Nely vinha de Pato Branco, sempre ia a Pink ver as novidades que Ari trazia de São Paulo. Em 1982 fui candidato a vereador e embora não tenha me elegido, recebi o apoio e o estímulo de alguns amigos, entre os quais o de Ari.
Logo depois ele abre seu restaurante na rua 7 de setembro, em Porto União, o Salão Colonial, onde estive inúmeras vezes, muitas das quais já no horário próximo a fechar. Combinávamos, previamente, esse ‑
horário e eu e o amigo comum Orleans Antunes de Oliveira Filho levávamos o vinho e Ari preparava algo e ficávamos conversando até altas horas. Depois disso minhas filhas frequentaram, por anos, a Vibratto, escola de música de Ari e Clotilde.
Nos final dos anos 90 estreito laços de amizade com Murilo Passos, filho de Ari. Nos aproximava além da música, cinema e leitura, um olhar análogo sobre certas questões existenciais. Ambos apreciávamos a boa gastronomia, com Murilo revelando-se um mestre na arte culinária. Boas são as lembranças do início de 2001, quando eu e Margarete estivemos com Murilo e mais um grupo de amigos em Piçarras. A casa onde estávamos ficava de frente para o mar e possuía uma sacada ampla, onde degustávamos as iguarias preparadas por Murilo e também por um amigo seu, que não lembro o nome, mas que também era arquiteto como Murilo e de origem oriental, era um mestre na cozinha japonesa. Logo a seguir se incorpora ao nosso convívio o outro filho de Ari e Clotilde, Lúcio Passos. Juntos ingressamos como professores da Uniuv e juntos organizamos a primeira Semana da Comunicação daquela Instituição de ensino.
Nessa época eu fazia um mestrado em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná e acabei ficando amigo de meu professor Décio Pignatari, que muito mais que um dos criadores da poesia concreta, ao lado dos irmãos Campos, era uma das mais vigorosas culturas deste país. Lúcio coordenava o ‑
curso de Jornalismo na Uniuv e eu resolvi trazer o Décio pra cá, para fazer uma palestra. Após a palestra, fomos jantar no Tomate & Cereja, eu, Margarete, Nina Rosa, Décio, Lúcio e Murilo e já combinados de no dia seguinte, almoçarmos na casa de Ari, que havia me perguntado o que Décio gostaria de comer. Perguntei ao mestre que respondeu sem titubear, vitela. E Ari preparou a vitela, antecedida é claro, por um bom scotch, que Décio tomaria a clássica saideira, após o almoço e um pouco antes de voltar para Curitiba em uma van que já o esperava em frente a casa de meus amigos.
No ano seguinte, 2003, eu coordenei o curso de Relações Públicas da Uniuv e em meados do ano, em parceria com a Fundação de Cultura de União da Vitória, que eu estava presidindo desde março, organizei novo ciclo de palestras, denominado de Comunicação & Ideias. Trouxe para encerrar a semana o brilhante intelectual, professor Sílvio Demétrio, que era colega de meu amigo Márcio Fernandes, em Cascavel, e, depois professor de Nina Rosa na UEPG. Sílvio era detentor de uma cultura monumental e em sua fala ele traça um paralelo da obra As ilusões perdidas, de Balzac, como processo comunicacional. Depois da palestra, fomos, eu Margarete, Sílvio, Lúcio e Murilo para o restaurante San Rafael, onde filosofamos até perto das 5 da manhã, cercados por várias garrafas de vinho e pelas mesas ao lado já arrumadas para o café da manhã do hotel.
‑ Isso tudo sem falar das inúmeras vezes que jantamos na casa de Ari, degustando novos sabores de pizza que ele iria introduzir no cardápio de sua Cia da Pizza.
São ótimas lembranças de uma bela amizade que passou de geração para geração.
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