Demanda virtual
A internet é como o homem, uma lâmpada sem gênio, ela não deu muito certo. Apesar de suporem haver um maior acesso à informação, essa informação é sempre a mesma, em geral. É repetida, por exemplo, em todos os sites jornalísticos. Pelo menos ao considerarmos apenas os sites mais prevalentes. O suposto acesso a ela se restringe apenas ao que é vinculado pelo semelhante. O que estampa a limitada repetição discursiva. Prova disso se vê no oráculo facebook, onde se colhe diante da chuva que se assanha – há mais importantes, um prato de comida – quinhentos comentários, duzentos sobre uma notícia falsa, trezentos sobre o feriado, seiscentos sobre uma menina invejada, – os melhores são frases prontas sem referência e qualquer contexto – e quase todos procurando uma cura para seu infortúnio amoroso. Em quase todos esses posts se reconhece uma demanda, às vezes um pouquinho mais implícita, noutras escancarada. Eles pedem, talvez sem dar-se conta, um ouvido, uma resposta, um elogio, como se tornando pública sua súplica algo ali interviesse, como se a interpretação de seu pedido concedesse seus desejos. Anamneses completas, história da infância e família, desvelamento de inimigos, “o que eu queria ouvir” dizendo, pra quem sabe me dizerem? assassinatos mentais, à procura do falo encantando, é como ao analista, um depósito de lixo. Acho uma enfadonha diversão. Definição melhor do que “o inconsciente é o discurso do Outro”? Enfim, o fato é que o falante pede ao falar (escrever) e se perde ao pedir. E se encontra numa identificação (é só um exemplo) seu desejo é o desejo do Outro. E se alinha novamente, tudo recai na mesmice. Dia de sol dia de chuva. Esse alinhamento destoa quando surge uma besteira capaz de intimidar o “bom senso” programado a ser comum, e então os grupos bem definidos por traços igualitários de não-sei-o-quê encontram um objeto alvo de seu ódio, tornam-se mais coesos, uma religião sem Deus? E lançam seu desejo mais ou menos representado por um elemento mais ou menos comum a uma proposta mais ou menos. Porquanto ela tenha um ar de parecer inovadora, obviamente. O falante reencontra sua demanda no retorno da impossibilidade de satisfazê-la, e faz o que? Elege outro retorno do mesmo. Amor ao impossível? Por fim, Foucault falava da morte do sujeito e do autor. Na internet não importa quem diga. Encontrei isso entre comentários revoltosos em conseqüência de fotografias de olhares tristes de animais de cativeiro (eu não seria capaz de inventar isso): “Precisamos caçar os animais para que não haja super população e eles não morram de fome, ou seja, precisamos mata-los para que eles não morram.” (Angelo Fernandes2) eis a fonte:
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/05/fotografo-capta-olhar-triste-de-animais-que-vivem-em-cativeiro.html, não vejo motivo para ocultar seu nome, já que outros, no entanto, desejam amplificá-lo: “Mister alcandorar o absenteísmo de arcabouço teórico de todos os comentários até então. O que corrobora o porque do Brasil nunca ter ganho um Nobel ou Oscar. A risível cultura se espelha por nacos. Dra Juracy Ady. Advogada.” Fonte: http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/05/pai-se-nega-pagar-cirurgia-do-filho-e-stj-decide-que-ele-pode-ser-preso.html vocês também não se divertem?
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