Deus julgará os pais
M. Daluz Augusto
(In Memoriam)
Palavras de uma mãe infeliz, dos nossos tempos. “Tenho dois mocinhos e uma menina. Os três são transviados. De nada valem conselhos nem boas palavras. Quem menos manda em casa somos eu e meu marido. De igreja não querem nem ouvir falar. O mais velho chegou a dizer certa vez que tem suas dúvidas quanto a existência de Cristo. Já não sei mais o que fazer.”
Automaticamente, lembrei-me da entrevista que ouvi da senhora mãe de Cássio Murilo, um dos matadores da inditosa jovem Aida Curi, crime que abalou todo o país e que é do conhecimento de todos. Numa certa altura da entrevista, essa senhora, mão de um criminoso mirim, disse que percorreu o Rio de janeiro inteiro em busca de um colégio para o filho. “Desejo dar ao meu filho, disse ela, educação intelectual e religiosa, mas tudo tem sido inútil.” Educação religiosa. Essas palavras chamaram a minha atenção. Estranhei que só agora ela pensasse em dar ao filho educação religiosa! Dizem que essa senhora, mãe infeliz de Cássio Murilo, nunca cuidou do filho como uma mãe, verdadeiramente, cristã. Ela acreditava no dinheiro, o mesmo acontecendo Ronaldo, o outro moço envolvido em tão revoltante drama. Deploro a triste situação em que essas mães se encontram, mas não as isentam de culpa. Segundo David Nasser, o pai de Ronaldo foi o professor do filho em matéria de imoralidades. E a mãe de Cássio não fica muito longe. Não defendo Cássio, nem Ronald, pois eles confessaram o crime.
O mesmo acontece com os filhos da senhora a que me referi no início. Não chegaram a cometer nenhum crime, por enquanto…e praza aos céus que tal nunca aconteça, mas estão indo por um caminho perigoso que os levará à decadência total. O dinheiro cobre tudo, dizem para a mãe. “Enquanto tivermos dinheiro, podermos estar certos da nossa segurança”… Confessam seus deslizes com a cara mais deslavada deste mundo. E tudo isto contado pela própria mãe. Chegamos a um ponto crucial: não há salvação para os filhos, nem para os pais. Mais tarde (que tal não venha a acontecer), a justiça dos homens pedirá contas a esses transviados, a esses delinquentes infantis. Mas permita-me eu lembrá-los a vós pais, que aqui há alguém mais culpado que esses criminosos e transviados. E este alguém vo-lo denunciar: sois vós, pais de família. Sois vós mães. Vós representantes da sociedade, desta sociedade que castiga o delito de que ela é a causa e não o quer impedir.
Vejo a minha frente, Cristo na cruz. Ele deveria estar também em todos os lares, nas escolas, para onde levais as crianças a fim de se instruírem. Por que lamentais agora, se formais as almas longe do olhar de Deus?
Se o tivessem encontrado nas escolas, nos seus quartos, em seus lares, ter-se-lhes-ia agora evitado o banco da infâmia e as lágrimas vergonhosas das mães. Quem jamais lhes ensinou, lhes afirmou que há um Deus e uma justiça eterna? Quem lhes falou da imortalidade da alma, do respeito devido ao próximo, do amor fraterno? Quem lhes avisou que o corpo humano é Templo do Espírito Santo e que não pode ser profanado?
Quem lhes ensinou a lei de Deus: “Não matarás”.
A mãe? Não, ela tinha os chás, os bailes e recepções, os desfiles de moda, o salão de beleza, o pife para tomar seu tempo. O pai? Ele tinha as indústrias, as corridas de cavalos, “as outras mulheres” e o pôquer…
Deixam as almas abandonadas às suas perversas inclinações. Os jovens de hoje em dia vivem como selvagens órfãos de carinho, no abandono total da assistência materna. Vivem só, numa sociedade que mata a fera, quando deveria ter-lhe aparado as garras e domado sua ferocidade em tempo oportuno. Sim, acuso-vos senhores pais indiferentes, civilizados e bárbaros moralistas superficiais que levais em triunfo o ateísmo e a pornografia. Acuso a vós que vos assustais quando descobrem que vossos filhos pertencem ao tenebroso Sindicato da Curra! Sois cúmplices de vossos filhos!
E não vos esqueçais nunca desta verdade: “Deus julgará os pais pelos crimes de seus filhos”!
Lulu Augusto – Crônicas que não rasguei
Ano VI – Número 72 – Outubro de 1959
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