Diferença
O mundo gira enquanto os seres andantes incluem sutilmente suas obras de ficção no cotidiano. Isso é tão trivial quanto sofrer do que os cristãos primitivos chamavam de “acídia”. É a insuportável letargia que envolve aqueles que estão saciados, que não possuem mais desejo algum. Traduzindo para a “modernidade”, isto é simploriamente conhecido como tédio.
Na última segunda-feira recordei de uns acontecimentos que, de forma antagônica, acabaram me entediando. Em 17 de outubro de 1981, um carioca então com 29 anos estremecia as bases e ganhava seu primeiro título mundial na Fórmula-1. Nelson Piquet, que já havia superado o mestre, um “tal” Niki Lauda, não tomou conhecimento da concorrência e detonou. Isso faz 30 anos.
E também lembrei que dois dias depois, em 19 de outubro de 1991, o Brasil faturava seu último título mundial na F-1. Ayrton Senna ganhava o tri no Japão, e não tínhamos a menor ideia do marasmo do qual seríamos vítimas nos próximos 20 anos…
Não quero justificar aqui o que realmente aconteceu com a representatividade brasileira na F-1. Porém, ter que assistir a Felipe Massa lutar por um sexto lugar com Alonso, Rubens Barrichello tentando chegar no Q2 com um chassi mais “torto” impossível e Bruno Senna brigando com um carro que só é bom em pistas de alta é um tédio sem tamanho.
Nosso povo não absolve perdedores. Só políticos. Barrichello sempre foi visto com desconfiança. Nunca teve ciência para enfrentar Schumacher na Ferrari e se corrompeu. Massa chegou a ser Top, teve um campeonato ridiculamente roubado e depois do acidente na Hungria em 2009 nunca foi o mesmo. Para fechar, perdeu a precedência em detrimento de Alonso dentro da Ferrari e já se encaminha para alguma equipe menor após 2012.
Nessa equação obscuramente euclidiana, sobra Senna. Ano passado não conta. Aquilo que ele guiava era tudo, menos um F-1. Suas duas primeiras corridas neste ano foram acima do esperado. Contudo, uma parte da mídia já o sobrecarregou com desmedida responsabilidade. Resta torcer para o garoto aguentar o tranco.
Enquanto isso, vamos vivendo de maneira bem parecida com os acidianos. Uns preenchem seus valiosos tempos com uma das seis novelas (ééca!) que tal emissora exibe quase todos os dias. Outros preferem outras formas de atravancamento mental. E eu tenho que me dar por refeito em saber, a cada trinta dias, que mais um ministro se envolveu em alguma maracutaia em Brasília. Que diferença faz? Nenhuma.
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Depois do lançamento do “livro” do Zé Dirceu vou perguntar de novo: Cadê o Palócci?
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