Do primeiro rádio a gente nunca esquece
No início dos anos 70, creio que em 1973, eu cursava a 4ª série do antigo ginásio, no Colégio Estadual Túlio de França e em certa manhã, na hora do recreio resolvi ir para casa, em uma clássica gazeada de aula.
Como eu morava na Barão do Cerro Azul, meu caminho era pela Manoel Ribas até a Costa Carvalho e dela até a Barão.
Logo no início de minha caminhada, um colega de minha turma, Marcos Sperança de Oliveira, me alcançou e disse que estava indo para casa para ouvir a Excelsior, a mitológica Rádio Exlesior de São Paulo, o que eu também estava indo fazer.
Conto essa pequena história para relatar minha já aqui mencionada, paixão pela música e em consequencia dela, também pelo rádio.
Ganhei meu primeiro rádio de pilha de minha tia Dina, de saudosa memória, e, que como eu também nutria uma paixão pelo rádio.
Quando criança ia muito a Rádio União, então gerenciada por minha tia Lulu Augusto e que tinha à frente de seu departamento de jornalismo, meu tio René Augusto. Talvez se origine daí a paixão pela música, aliada a grande quantidade de discos que havia em minha casa e ainda por possuir cinco primas, algumas um pouco mais velhas do que eu, como minha prima Jane, que na época, como aqui já relatado em outra crônica, possuía pérolas dos anos 60, como Aquarius – Let it Sunshine, do Gifth Dimension, uma infinidade de canções dos Beatles, de Johnny Rivers, as seminais Je T’aime moi non Plus e Jane B, de Serge Gainsbourg e que também aqui já mencionei, além das belas Sealed with a Kiss, que recebeu inúmeras interpretações nos anos 60, entre as quais uma de Paul Anka e Coment te Dire Adieu, com Françoise Hardy e que eu ouvia em minhas férias em Pato Branco. Estas duas últimas músicas também seduziram minha mãe, que anos mais tarde ganharia de Jane, o compacto de Sealed with a Kiss.
Assim se construiu então, minha relação com o rádio e que me levaria a partir de meus 13 ou 14 anos, ouvir, freneticamente, as Rádios Excelsior, Mundial, do Rio de Janeiro, Continental, de Porto Alegre e Iguaçu, de Curitiba, onde minha prima Jane trabalharia depois de graduada em Jornalismo, e, onde também gravaria algumas fitas de rolo para este seu querido primo.
Durante o dia eu ouvia a Excelsior em ondas curtas e só voltaria a ouvi-la já de madrugada em ondas médias, nos seus 860 quilohertz. No final da tarde eu ouvia a Continental de Porto Alegre, na frequência de 1.120. As seis da tarde ouvia o programa de Cascalho Times, o guru da magrinhagem, como ele se intitulava, as 9 da noite, ouvia o ótimo Ritmo 20, com Clóvis Dias Costa trazendo todas as novidades da música. Ainda lembro de ter ouvido em seu programa, pela primeira vez, o grande hit de 1973, Seasons in the Sun, de Terry Jacks.
As 10 da noite era a vez de Julius Brown, com seu contagiante programa de rhytm and blues e soul e que me apresentaria o som da Philadephia, a meia-noite era a vez de Beto Ronca Ferro.
Depois que Julius Brown saiu do ar, entrou o programa de Mr. Lee, patrocinado, evidentemente, pelas calças Lee e que também era retransmitida pela Rádio Iguaçu de Curitiba, que alguns anos depois, quando eu já dirigia, ia ouvi-la, em dias mais frios de inverno, ocasião em que as ondas se propagam melhor, no chamado Morro do Vitinho, onde hoje está o Restaurante Porto Grill.
Época em que também ouvia com meu amigo Celsinho Passos, no rádio de sua Brasília azul, o programa de Cascalho Times. Celsinho em 1976 me apanhava quase que diariamente, às 6 da tarde em minha casa. Dávamos uma volta pela cidade ao som do guru da magrinhagem. Good times.
Na época em que a Continental apresentava Beto Ronca Ferro, que só tocava Rock’n Roll, eu ficava entre ele e a Mundial do Rio, que toda noite, no mesmo horário apresentava Ritmos de Boate, com o indefectível Big Boy, que todas as noites iniciava o programa com sua mítica saudação, Hello crazy people. Ritmos de Boate tocaria um som pra lá de dançante, pra lá de sacolejante, como dizia o próprio Big Boy e onde desfilariam todos os hits do movimento disco, a partir de The Hustle, de Van McCoy, de 1973.
Grandes programas, grandes músicas apresentados antes do advento das FMs e portanto, em AMs.
Hoje ouço bastante a Eldorado FM de São Paulo que tem ótimos programas, como Empoeirado, com Ed Motta, que toca só raridades e em vinil. Outro programa bacana é Sala dos Professores, com Daniel Daibem tocando muito jazz que hoje é o que mais escuto.
Novos tempos, mas que, certamente, beberam na fonte de grandes DJs como Big Boy, Cascalho Times e os outros já mencionados.
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