E Ferlinghetti já sabia
Em 1983 já graduado, decidi estudar história na Fafi. Sempre tive a pretensão de estudar História e entendi que aquele era o momento oportuno. Tive professores fantásticos, como Almir Rosa e Edy Santos da Costa e fiz grandes amizades, algumas das quais permanecem desde então, caso das irmãs Silvana Carvalho do Prado e Suzane Carvalho do Prado, além de Maurício Cesar de Campos, que infelizmente, faleceu ainda jovem.
Silvana foi minha colega no curso de História e hoje vive em Ponta Grossa, onde trabalha como professora de inglês e tradutora, além de ter feito mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina. Suzane, que na época cursava Letras, graduou-se também em Direito e hoje reside em Ponta Grossa, onde é Promotora Pública.
Como disse, conheci Vana, como a chamava e ainda chamo, na Faculdade de História e logo nas primeiras semanas fomos começando a construir uma duradoura amizade, amparada em interesses e gostos comuns, como o cinema, a música e a literatura.
Não era mais tempo de bandas e disparadas, nem de vândalos nas madrugadas, nem alegrias e correrias desenfreadas, como diz a velha canção de Carlinhos Vergueiro, mas um tempo no qual nosso olhar se voltava para os anos 60 e 70 e também para os anos 50, principalmente para os prosadores e poetas da beat generation, que apresentei para Vana e sobre os quais tínhamos longas e intermináveis conversas.
A seminal obra da geração beat, On the Road, de Jack Kerouac, publicada originalmente nos Estados Unidos em 1957, finalmente, em 1984, sai no Brasil, trazendo em seu bojo outros beatniks, como Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso entre outros e Wiliam Burroughs, uma espécie de proto beatnik.
Vana depois de ler On te Road e Uivo, de Allen Ginsberg, compraria o livro Vida sem fim, de Lawrence Ferlinghetti, onde há o belíssimo poema Estou esperando e que me inspiraria a escrever o poema E Ferlinghetti já sabia, dedicado a essa caríssima amiga.
Em 1984 decidimos fazer uma chapa e concorrer ao diretório acadêmico da Fafi. A decisão ocorreu uns 5 dias antes da eleição e iríamos enfrentar uma chapa composta basicamente por acadêmicos de Matemática e Ciências e que há muitos anos estavam à frente do diretório e eram apoiados pelo então diretor da instituição, Cícero Lauriano Leme. Incentivados por nosso mentor intelectual, professor e amigo, Almir Rosa, compusemos a chapa, encabeçada por Maurício Campos e com oito integrantes do curso de História e da mesma sala, entre os quais eu e Vana, mais Suzane, Claúdio Dutra e Adilson Machado, do curso de Letras, entre outros. Orientados por Almir, chamamos os adversários par um debate, já sabendo que eles não se arriscariam a discutir propostas conosco, uma vez que eram francos favoritos e em uma discussão só teriam a perder. Usamos a recusa dos adversários em nossa campanha e de uma chapa totalmente desconhecida, pela exigüidade do tempo, passamos a ter alguma chance e ganhamos a eleição por apenas 9 votos, num universo de mais de 500 votantes. Fizemos uma gestão antológica no aspecto cultural e social, com peças de teatro, exposições, um baile para a eleição da mais bela acadêmica e ainda lançamos um jornal intitulado Canto Geral, em homenagem ao poeta chileno Pablo Neruda, que ara idolatrado por Suzane, Claudio, Maurício, Vana e por mim. Ainda tenho os originais e ano passado os escaneei e enviei para Suzane em Ponta Grossa.
Mas se fizemos muitas coisas no aspecto cultural e social, nos descuidamos completamente do esporte, o que nos custou a reeleição. Eu por motivos pessoais e profissionais, desisti do curso no início de 1985, até que em uma tarde do início de março daquele ano, recebi a visita de Vana e Claudio Dutra, no Centro de Saúde de União da Vitória, onde eu então trabalhava. Eles foram me convocar para voltar à faculdade e montarmos nova chapa para concorrer ao diretório. Lembro de ter ponderado que nossa reeleição seria improvável devido, principalmente, à lacuna que deixamos no esporte. Fui convencido de que eles precisavam de mim. Voltei e perdemos a elição por larga margem de votos e aí desisti de vez.
Vana, Suzane, Delamar Côrrea e Maristela Talamini, minhas colegas de faculdade, estiveram na festinha de um ano de minha filha Nina Rosa, em 1984, no Clube Concórdia.
Quando Nina Rosa e Iriana, minha filha cover, foram fazer seu primeiro vestibular, liguei para Vana em Ponta Grossa, pedindo para ela nos indicar um hotel. Ela nos convidou para ficarmos em sua casa, na época em julho e naquele ano, 2000, estava muito frio. Acordei cedo para levar as meninas ao local do vestibular e meu carro estava coberto de gelo. Lembro que Vana teve que esquentar água para que eu pudesse limpar o para brisa. Sua casa era cercada por um vasto gramado, naquela manhã, coberto de geada, o que proporcionava um belo e bucólico espetáculo.
Levei as meninas e ao voltar, ouvindo uma canção, de Lou Red e olhando aquela paisagem belíssima, quase que européia, passei quilômetros da entrada da casa de Vana.
Quando lancei meu livro, Sobre a formação de platéia, em setembro de 2005, convidei Vana e Suzane que me honraram com suas presenças.
Com Suzane tenho falado mais frequentemente pelo Msn, de Vana recebo esporádicas notícias, pelo Facebook, mas por meio de sua filha Amanda, mas ambas, Suzane e Vana, comprovam minha teoria de que as amizades comuns precisam da convivência diária para se manter, mas as verdadeiras amizades, como a nossa, subsiste por si só.
É por isso que elas são duas de minhas mais caríssimas amigas.
Leave a comment