Em tempos de coronavírus 6
Da alienação ao extremismo e da transgressão ao conservadorismo
A eleição presidencial de 2018 culminou na imensa fratura social em que hoje vivemos.
Os conservadores e os também não tão conservadores, mas carregando enorme anti-petismo, optaram por Bolsonaro e os progressistas, mesmo os não petistas como eu, optaram por Haddad. Não era possível votar em alguém que ao longo de sua vida pública declarou de forma categórica ser racista, homofóbico, misógino e se isso não bastasse, defendeu a tortura e a ditadura militar, além de ser um deputado do baixo clero e com atuação pífia. Na campanha, antes da facada, nos poucos debates que participou, corroborou isso tudo que digo, e, ainda foi escancarado seu baixíssimo nível intelectual e despreparo.
Durante a campanha eleitoral acima mencionada fui observando, por meio das redes sociais, pessoas que jamais haviam se manifestado politicamente, e, que ao longo de suas vidas se mostraram envoltas por total alienação, transformarem-se da noite para o dia em verdadeiros arautos do fascismo. Vi alguns conhecidos de juventude e que ostentavam bandeiras transgressoras, transformados em eméritos conservadores. Difícil de acreditar.
Mas as coisas foram piorando e fui vendo pessoas que nunca leram um livro na vida tornando-se filósofos, antropólogos e sociólogos, criticando os grandes teóricos da esquerda, como Marx, Lenin, Trotski e Gramsci, sem saber nada sobre eles. Criticando de forma violenta o socialismo, sem nunca terem lido um único livro sobre a Revolução Russa ou a cubana.
Vi e ainda vejo pessoas que acham que Kafka é um prato da culinária libanesa nos chamando de esquerdopatas e outros impropérios. Vi e ainda estou vendo fundamentalistas religiosos que parecem ter emergido da Idade Média, criticando o comunismo e propositalmente, ou por ignorância esquecendo-se daquele que foi o maior comunista de nossa história, Jesus Cristo, o maior pregador da igualdade entre os homens.
É uma pena que para encerrar esse pequeno comentário eu seja obrigado a evocar célebre frase de Nelson Rodrigues:
“Os idiotas perderam a modéstia”.
Uma lágrima
Vai para o escritor e dramaturgo, Antonio Bivar, que morreu no dia 5 de julho, aos 81 anos, vítima da Covid19. Bivar é autor do belo e sensível livro, Verdes vales do fim do mundo, que relata o exílio no final dos anos 60 de ilustres brasileiros, como Caetano e Gil na Inglaterra.
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