III (fim) Então agora eu tenho inconsciente?
Além disso isso pulsa. Uma das formas de se reconhecer os mecanismos do inconsciente é através da insatisfação, que na realidade é o motor do aparelho psíquico. Suponha uma satisfação momentânea, como todas as satisfações diminuem a tensão há um rebaixamento da mesma. Mas sendo parcial, sempre haverá outra. Aqui não se trata apenas da repetição da experiência, trata-se da substituição de uma vivência não apreensível.
É preciso admitir então que a pulsão visa algo, tem um alvo. Da mesma forma que é necessário a ela um objeto, ainda que variável o bastante para ser descartável. Mas embora descartável, que cumpra sua função frente à meta da pulsão. Ora, em termos econômicos é preciso reconhecer uma fonte, situada no corpo. Como o objeto só pode ser reconhecido no outro (imaginário) a pulsão é instaurada a partir dessa relação. Então a pulsão, o inconsciente pulsional, é o veículo econômico da dependência humana.
O problema é que – para concluir dessa vez – ao contrário do que supõe os neurocientistas, as pulsões nem sempre podem ser domadas, ainda mais através de exercícios. Elas necessitam de um escoadouro. Que seja o boxe para a violência ou o corte cirúrgico do corpo para a assassina. Mas se a elas é negada uma via direta ou sublimada lhes resta ainda outros caminhos, um deles é a produção de sintomas. De qualquer maneira ela só pode ser suprida na fonte. Já tentaram, a título das loucuras cometidas em nome da ciência, eliminá-la arrancando fora um pedaço do cérebro. Hoje conseguem atenuá-la quimicamente, o que não é novidade desde a descoberta divina do álcool. Ou de outras drogas.
Embora se reconheça que o inconsciente ocupa a maior parte da mente – não estou certo de que admitam haver uma mente – diríamos que a porcentagem correspondente à consciência (os cinco por cento supostos) é proporcional à relação existente entre o conhecimento científico do inconsciente. Pra jogar alto. Talvez encontrem um meio de medir a pulsão, mas teriam que substituí-la por no máximo necessidade, ou fariam questionários com escalas de 0 a 10, como fazem com a ansiedade, para mensurar a vontade. Ainda assim estariam tratando de coisa absolutamente diversa. Independentemente, no entanto, do futuro que a ciência destinará a ela em suas pesquisas, sua atuação não para. Continuará a embalar inclusive as pesquisas, o que vemos com bons olhos, e não deixará que cheguemos a um fim absoluto, servirá quem sabe ao próprio conhecimento científico, quando houver a impossibilidade frente ao saber, em conformidade com a mesma impossibilidade de esgotar por completo o desejo por termos lingüísticos, ela apontará sempre para outro objeto. Ou será que descobrirão um dia que esse objeto está pra sempre perdido e que, portanto, será sempre reencontrado?
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