LÍNGUA POLONESA: entre a saudade e a modernidade
“Mais do que a fome, a doença e a solidão,
Era a ʽt´sknotaʼ que apertava o coração
Sim, até isso a Polônia e o Brasil
Têm em comum: a saudade”
(Excerto do poema “140!”, de TomaszLychowski)
Na poesia e na liturgia, a língua polonesa abrevia a saudade dos imigrantes e seus descendentes. Porque o descendente nascido no Brasil também sente a saudade de uma terra cujos olhos nunca viram, e de pessoas que nunca abraçou, visto que os percebe como parte sua, como sua identidade. Na vida dos imigrantes poloneses que vieram para o Brasil e de seus descendentes, marcada pela fé católica, as rezas, o terço, as missas, eventos de letramento litúrgico, unem os falantes em atividades comuns e ajudam a manter a língua viva, mesmo na área urbana.
A língua polonesa deriva do grupo balto-eslavo, assim como o búlgaro, o servo-croata, o tcheco, o eslovaco, o sérvio, o russo, o ucraniano, o lituano e o letão. Alguns descendentes no Brasil ainda falam o idioma polonês, principalmente em Curitiba, pelo fato dela ser a segunda cidade, fora da Polônia, com o maior número de habitantes de origem polonesa (superada apenas por Chicago, nos Estados Unidos).
Da colonização paranaense em Itaiópolis, Rio Negro, Antônio Olinto, São Mateus do Sul, União da Vitória e Cruz Machado, os poloneses enveredaram pelos caminhos das araucárias e dos ervais, transpondo os rios Iguaçu, Negro e Canoinhas, ingressando em território catarinense. Em 1895, durante a terceira fase da imigração polonesa, a Colônia Alberto de Abreu, próxima a Porto União, recebeu cerca de 350 poloneses da região da Galícia e da região dominada pelos russos. Daí muitos terem emigrado portando passaportes russos, e não se distinguirem facilmente de outras culturas eslavas, como os ucranianos.
Integrando-se à comunidade portounionense, as famílias polonesas contribuíram juntamente com as de outras etnias para o crescimento da região: prefeito e contadores Stasiak; vereador Calikoski; empreendedores Chipitoski e Dolinski no comércio local; a professora e pesquisadora Gaydeczka, natural da região do Legru, onde os poloneses estabeleceram a primeira escola isolada em 1907; e o Bodnar que auxiliou na construção da Igreja de São Miguel Arcanjo são alguns poucos exemplos. Transformaram-se em símbolos de sua cultura eslava as carroças de toldo, os lambrequins, as casas e as igrejas em madeira. Aderiram ao chimarrão, e também incorporaram sua gastronomia típica, que hoje conhecemos bem: o pierogui de ricota com batata, o kapusniake o pão de mel. Para festejar o final da primeira Grande Guerra, desfilaram pelas ruas de Porto União em 1919 os poloneses e seus descendentes, empunhando as bandeiras do Brasil e de sua terra natal, juntamente com os imigrantes de outras etnias; ofereceram também cerveja feita em casa.
Neste primeiro centenário de Porto União, vivemos um momento em que a Polônia busca fortalecer os laços não somente com os descendentes de seus emigrantes, mas com o Brasil como um todo, promovendo convênios que valorizam a coparticipação em iniciativas de educação, cultura e economia. Em nossas cidades, fecharam-se convênios entre universidades, que têm promovido o intercâmbio de alunos e professores. Tive minha própria experiência acadêmica nas cidades de Varsóvia e Torún, e conheci um povo amável, receptivo, e valente; em menos de trinta anos após estarem sob o jugo de dois governos ditatoriais, o nazismo e o socialismo, o país desponta com um desempenho econômico e educacional invejável.
Mas a língua polonesa é de domínio muito difícil fora do círculo familiar e religioso dos descendentes. Procurando estender seu domínio a todos os interessados, destaco o trabalho e a iniciativa de três professoras em nossas cidades: 1) A saudosa Irene Rucinski, que além de trabalhar com a língua portuguesa manteve-se interessada em pesquisar e divulgar a língua polonesa; 2) Marli Terezinha Kovalczyk, atuando na Escola EstanislauWrublewski, no Distrito de Santana, município de Cruz Machado, manteve viva a herança não só da língua polonesa, mas também de tudo o que envolve sua cultura. Através do CELEM – Centro de Línguas Estrangeiras Modernas, que funciona no Estado do Paraná há mais de 25 anos, tem permitido aos descendentes de imigrantes poloneses e demais interessados manterem o contato com a língua e a cultura dos antepassados. Através do intercâmbio cultural entre o Brasil e a Polônia, todos os anos a comunidade de Santana recebe visitas de poloneses, e os alunos são colocados em contato com eles para praticarem o uso da língua; 3) e Ludmila Pawlowski, nascida na Polônia, que oferece a toda a comunidade a oportunidade de aprender a língua polonesa, sempre envolvida em atividades que a contextualizam na arte, na história, nos costumes.
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