Mesa redonda
Esta mesa redonda procura dar oportunidade aos esclarecimentos. Nosso tema central – mas é óbvio que há certas flexibilizações, digamos – é posições discursivas firmes e inabaláveis. Passo a palavra, para registrar sua opinião, ao Septuagenário Alcunha Pórrida:
– Boa noite senhores. Tenho em mim a obrigação pátria de honrar o bandeira nacional, o hino, os símbolos, as armas, Deus, os grandes homens e homens grandes que por mim passaram, os mulheres, e dizer que só existe um tipo de homem, aquele que é homem pra homem, homem fiel. Admito que um homem jamais deve contradizer-se com o homem que am é, por isso permaneço inabalável na defesa dos bons costumes. Brasil!
O senhor gostaria de complementar?
– Rapidamente. O fato de eu dizer que estou firme em minhas convicções não quer dizer que não possa aceitar novamente… minhas convicções, compreende?
Não compreendi.
– Quero dizer que aceito o, seu nome é Carlos? Mas que cabeça a minha, pensei que fosse Carlos, veja só, Carlos.
Obrigado Alcunha Pórrida. Passemos à próxima exposição. Nenquê fará uso da palavra.
– Aê! Eu nasci das entranhas dos vermes do inferno.
…algo mais?
– Um vômito das sombras na cara da sociedade.
Muito bem.
Agora passaremos a palavra a Altas Atitudes Baixo Astral. Por favor. Fique à vontade.
– Vocês me enojam. Vejam (apontando) um velho hipócrita viado pagando de moralista e um adolescente de 40 anos (encarando) se passando por metaleiro. Na minha época metaleiro se revoltava com o sistema, com autoridade, e não com feminista e bichinha inofensiva…
– Nome e número! O Alcunha Pórrida falou como se estivesse no quartel.
– Queime no inferno impostor. Eu sou mal. Ser gay é contra a bíblia que eu não acredito.
Senhores, senhores. Conto com a diplomacia que saberão ter. Ainda não foi dada a palavra a Belodia de Novembro. Belodia, por favor.
– Um passarinho canta pra te ver dançar. Sabe por que uso bigode? Porque posso. Uma conta que aprendi e apliquei no jogo do bicho: a cada três homens se alfinetando, o Belodia aqui fatura três belezuras.
Por favor por favor contenham-se. O senhor não pode abraçá-lo. Isso, deixe-o terminar. E sempre foi assim?
– Querido, verdade seja dita, já fui mais seco, mais “homem não muda de opinião” como defende aí o militar. Também já fui do contra, do contra do contra e tal.
Sim mas…
– O Belodia aqui sempre tem uma carta na manga.
– Diga-me qual. Implora Alcunha Pórrida.
– Aprendi com o entortável.
– O que?
– No ódio aos outros, seus recalques.
– E no amor? Alcunha Pórrida pergunta esperançoso.
– Aí vocês dariam o que não tem.
– Ai meu peruzinho. – Corre uma lágrima do olho de Alcunha Pórrida.
Altas Atitudes e Nenquê riem.
Testa de Laranja Mor, injustificadamente, havia ausentado-se do debate.
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