Não há horizonte.
As metáforas têm me enchido o saco faz muito tempo, não é de hoje. Isto não é uma. Não é possível avançar, e todo mundo já experimentou isto alguma vez. Quando a angústia aparece, tenta-se logo reerguer-se o desejo, para escamoteá-la novamente. Mas este é o campo do psicologismo, da autoajuda, do barato ideal. Teme-se pela autoestima, pelo ego, termo que não uso, mas se uso-o aqui, é para ultrapassá-lo. O sentido é a imagem, a fixação de um tempo que não é conceito, portanto, só leva a analogias. E aí, pela ausência de um modelo, nos dizem que é preciso inventar um, esta é a aposta. Só que, sendo franco, só gênios inventam. E pior, há sempre o movimento de retorno ao bom estado de coisas, passado, confortável e menos pior. Ninguém compreende que a causa está na frente, e não atrás, se não for implicado nela. É preciso que o efeito esteja antes para mirar. A verdade, quando surge com a angústia, parece não ser bem suportada, e é preciso, em geral, recorrer à fantasia, pois a verdade comporta uma falta. Ela não aparece somente como relevação de algo oculto, mas é encurralada, e nisto está seu aspecto real, pois se apresenta como impossível de ser formulada por completo. Só que esta falta, na angústia, é a moção de transferência dela. Ninguém a quer, mas não se pode falar senão em dada língua. Não existe ‘real do sujeito’ mas sim ‘verdade’, o real concerne a todo falante igualmente, posto que sequer é elaborável. É sempre possível fazer desse objeto uma substância, e aí a metáfora e a comunicação, o aprendizado e o ensino, deliram. Piram. Tudo faz sentido, e quando todo sentido feito não para, a verdade também relativiza. Tanto faz, tudo se ajusta à lente produtora do olhar. Quando algo não funciona, graças a Deus, é preciso improvisar. Não que eu não ache não saia da negação a renovação, muito pelo contrário, não acho que não saia senão dela. No discurso hodierno a negação tem sido o próprio discurso: negação e negação da negação. Não há nada além. Voltemos ao desejo então. Não se pode desejar o que não se perdeu. Ainda que a perda não tenha ocorrido. Nem o desejo pode ser sem. É no objeto, portanto, esta verdade de há pouco, que o desejo deve se desencontrar, em qualquer caso, não na metáfora de sentido onde opera a substituição, que só leva à imagem especular. Não há imagem da falta, portanto, não se trata de inventá-la, mas de fazer com ela, apesar da metáfora. É preciso que esta dimensão esteja presente para que possamos pensar para além das equivalências imaginárias, e portanto, dos reducionismos que, por mais motivacionais que sejam, não passam de elogios, engodos vaidosos.
Psicólogo clínico, especialista em Teoria Psicanalítica e em Neuropsicologia. Atende em Caçador e União da Vitória. giuliano.metelski@gmail.com – WhatsApp: (49) 99825-4100 / (42) 99967-1557.
Leave a comment