Não Matarás
M. Daluz Augusto
(In Memoriam)
Crônicas que não rasguei
(Uma série de três artigos)
A morte imposta ao criminoso Caryl Chessman provocou uma onda de protestos de todos os lados! Não quero aqui, entrar no mérito de tal questão, por demais debatida.
Apenas, ocorreram-me interessantes associações de ideias ao ver a reação muito burguesa e sentimental de certa camada social do Brasil. Pessoas mal informadas, digamos melhor, ignorantes, numa demonstração insólita de “compreensão” dos verdadeiros valores da vida, têm a coragem (gostaria de dizer estupidez) de dar aos filhos o nome do referido bandido da luz vermelha. Pobres crianças! Que ideal e modelo seus dignos pais lhes impõem!
O nome de cada ser humano traz suas responsabilidades definidas. Por isso, em geral, toda a pessoa bem formada procura honrar o seu nome. Mas os “Chessmans” brasileiros estão isentos de tal responsabilidade! Seus pais lhes almejam um futuro promissor! O de bandidos, cujo fim será, provavelmente, o de seu homônimo americano, uma vez que no Brasil não há, ainda, pena de morte, mas, talvez a cadeira da mais elevada magistratura do país; a curul presidencial ou, pelo menos, estadual, como tem acontecido, vez por outra…
E, no coro de lamentações que cabem aos céus, contra a barbárie americana, condenando à morte o “inocente bandido”, destacam-se as vozes de inúmeras mães brasileiras. Porém, à maioria delas poderíamos perguntar:
Não sois também criminosos? Esta vossa solidariedade para com Chessman não é um reflexo de vosso sentimento de culpa? Não vos sentis também assassinas?? O perdão que quereis para Chessman não é aquele que em vão para amortecer vossa consciência??
Onde estão os outros brasileiros que reclamam pela condenação de um criminoso, mas não abrem a boca nem, para dizer uma só palavra contra o crime de infanticídio praticado por milhares de mães desnaturadas, por pessoas indignas, e por mulheres sem consciência que fazem da morte de inocentes o seu nojento ganha-pão?
A vós todos se aplicam as candentes palavras de Cristo: “Ai de vós, hipócritas: Sepulcros calados”. Por fora estancais uma beleza vã e por dentro sois corrompidos e tomados pela podridão.
Mães que vos transformastes em túmulos de inocentes, não mereceis mais nome que é a glória de toda mulher: Mãe. Se somente em legítima defesa é permitido matar, que se dirá de vós que matais inocentes, incapazes de se defender, vós que deveis morrer se preciso fosse para salvar a vida impotente que Deus confiou a vós??
Mãe: Porque matar a quem tem direito a vida?
Lulu Augusto –
Ano VII –
Número 87/88 –
Março de 1961
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