Nem tudo é cinema
O pai de Dancaster era um aficionado por cinema e um de seus filmes preferidos era A um passo da eternidade, filme de 1953, com Burt Lancaster e Deborah Kerr. Ele também gostava de Dana Andrews, ator de relativo sucesso nos anos 40 e 50. Quando seu filho nasceu ele não teve dúvidas e homenageou seus atores favoritos, surgindo daí o nome Dancaster, registrado sob os protestos de sua mulher que queria Paulo Roberto.
Rossana recebeu esse nome porque sua mãe amava o cinema italiano e havia assistido os épicos: Helena de Tróia, Ulisses e Sodoma e Gomorra, todos estrelados por Rossana Podestà.
Talvez o acaso, talvez essa conjunção onomástica, tenha um dia aproximado Dancaster e Rossana.
O fato é que ainda muito jovens se conheceram e jamais falaram da origem de seus nomes.
A amizade, ou um pouco mais que isso, durou pouco tempo e eles ficaram muitos anos sem saber absolutamente, nada um do outro.
Até que desta vez, não o acaso, mas uma rede social, fez com que se reencontrassem. Dancaster estava no terceiro casamento, enquanto Rossana ainda vivia o primeiro.
Não moravam mais na mesma cidade, mas foi na velha cidade onde se conheceram que se reencontraram. Falaram da vida, dos caminhos trilhados, das escolhas que fizeram e das que não fizeram como a de não ter ficado juntos. Nenhum dos dois soube explicar, ou quem sabe não tenham querido aprofundar essa lembrança. Ambos se diziam felizes com seus parceiros conjugais, mas, no entanto insistiam em se reencontrar, mas não o faziam, ou melhor, o faziam de forma fortuita. Rossana demonstrava certa insatisfação conjugal, segundo ela advinda de um acomodamento propiciado por vários anos de união. Até que um dia Dancaster resolveu aceitar o convite de Rossana e foi vê-la. Ela era chef em um pequeno, aprazível e caro restaurante à beira mar. Ele chegou sem avisar, na hora do almoço e quase que de imediato foi avistado por ela, que muito sorridente foi ao seu encontro. Ela lhe pediu que a esperasse e logo após o almoço poderia sair dar uma volta com ele. Quando ela, finalmente, chegou, ele elogiou a qualidade da cozinha, ela por extensão e seu sempre belo sorriso que a deixava mais bonita do que, realmente, era. Ele pediu que ela lhe sugerisse um hotel, prioritariamente, à beira mar. Era um dia chuvoso e cinza de início de inverno, mas mesmo nessa época do ano a cidade era bonita, mas um tanto melancólica com suas ruas vazias e silenciosas, onde se ouvia apenas o barulho do mar. Chegando ao hotel Dancaster disse que não tinha ido somente visitá-la e sim buscá-la para uma viagem sem destino determinado, nem data marcada para voltar.
Rossana disse que não podia sair assim, o que iria dizer ao marido e seu trabalho como ficaria. Dancaster contra argumentou, mas o restaurante não é seu e você não queria fazer algo diferente da tranquilidade e segurança de um casamento de mais de 30 anos?
Rossana apenas disse não poder. E Dancaster entrou no carro e voltou para casa, confirmando o que ele já sabia: poucos são os que abdicam da segurança, mesmo que ela propicie certas insatisfações, em troca de um amanhã, talvez de mais satisfações, mas de incertezas, sejam elas afetivas ou materiais.
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