No tempo dos quintais e dos cinemas de rua
Comecei a ir ao cinema ainda bem garoto e quando as cidades ainda possuíam três cinamas. O Luz em União da Vitória e o Ópera e Odeon, em Porto União.
Como já contei em crônica anterior, em que falo de minha mãe Ofir Augusto Sá, a quem atribuo o gosto pelo cinema, lembro com clareza dos filmes que vi ao lado dela e dos quais gostei muito. Além dos western spaghetti, como O dólar furado, Django, Ringo e sua pistola de ouro, entre outros, um dos filmes que mais gostei na época e que já comentei aqui, foi A invasão secreta, de 1964, dirigido pelo mestre dos chamados filmes B, Roger Corman. Vi esse filme, no Cine Luz, por três vezes. A primera vez com minha mãe e depois com meus tios René e Lulu, respectivamente.
Engraçado que também lembro de um filme , igualmente visito com minha mãe e no Cine Luz e que na época detestei. Trata-se de Gloriosa Retirada, que coincidentemente também é de 1964. É um filme francês, dirigido por Henri Verneuil e que tem no elenco Jean Paul Belmondo e Catherine Spaak. Revi esse filme anos depois e o achei formidável. Quando o vi pela primeira vez, ainda era criança e não entendi o drama pessoal dos personagens. Ainda falando do Cine Luz, peguei o final da era dos seriados que eram exibidos antes do longa metragem; Eles eram em preto e branco e ainda não eram em 24 quadros. Eram mais rapidinhos. Ainda nos anos 60 e também em preto e branco, assisti no Cine Luz, sempre com meu amigo Tyrone Braz Duarte, a saga de Santo, o Marcarado de Prata. Filme mexicano de péssima qualidade, mas que adorávamos, fãs que éramos de luta livre e Santo era um lutador e nas horas vagas, defensor dos fracos e oprimidos.
A garotada, diga-se os meninos, batiam os pés no chão, quando o mocinho salvava a mocinha das garras do vilão e também aplaudiam, ai já nos longas, quando soava a corneta da cavalaria, que vinha salvar a casa em chamas de um pobre fazendeiro, atacado pelos terríveis apaches ou outras tribos. O cinema americano sempre foi maniqueísta, salvo o cinema independente, que nunca se esquivou de colocar o dedo na ferida.
Não lembro o ano em que o Odeon e o Ópera foram inaugurados, mas acho que nesta época eu já era um pouco mais velho, creio que estava na pré adolescência e começava a ir no cinema à noite, com meus amigos, principalmente, Nivaldo Camargo, Paulo Murara e Paulinho Rockemback, embora tenha visto no Odeon com minha mãe, que era cinéfila de carteirinha, O Conde de Monte Cristo, filme baseado no célebre romance de Alexandre Dumas e que minha mãe já havia lido e adorava, assim como adorou o filme.
Eu e meus amigos também gostávamos muito de ir aos domingos na então chamada, segunda sessão, que era as 17 ou 17h30. Foi nesse horário que assistimos no Cine Odeon, um filme que para nós se tornaria um clássico, A mais cruel batalha, um filme apocalíptico, uma espécie de proto Mad Max. O filme é de 1970, mas deve ter passado aqui,de um a três anos depois, o mesmo se sucedendo com os filmes que menciono acima.
Também no Odeon e no mesmo horário, eu e meus três amigos, assistimos Roy Bean – O homen da lei, filme de 1972, do legendário Joh Huston e com Paul Newman como protagonista. O Odeon em determinada noite da semana apresentava uma sessão dupla e em uma dessas noites fui com minhas primas Carmen, Rita e Graça, que passavam alguns dias das férias no Porto, como elas chamavam. Não consigo lembrar qual foi o primeiro filme exibido, no entanto, lembro que após o término do primeiro, elas resolveram ir embora e eu fiquei sozinho e asssiti Quando o carnaval chegar, de 1972, dirigido por Cacá Diégues e com Chico Buarque, Nara Leão e Maria Bethânia no eleco. Gostei bastante, mas por motivo qualquer, nunca o revi.
Já no Ópera eu e meus amigos veríamos Butch Cassidy, filme de 1969, dirigido por George Roy Hill, com Paul Newman, Robert Redford e Katharine Ross. Esse tenho certeza que passou aqui uns três anos depois de seu lançamento nos EUA, ou seja, em 1972, pois os Murara vieram morar aqui em meados de 71 e Paulo Murara estava comigo neste filme. Saímos do cinema boquiabertos, primeiramente, com o próprio filme, com a beleza de Katharine Ross e com a magnífica trilha sonora, em especial com a canção, Raindrops keep falling on my head, composta por Burt Bacharach e interpretada por BJ Thomas.
São muitos filmes para uma história tão breve que volto a eles e aos cinemas das cidades na próxima crônica.
Au revoir.
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