Nunca é demais conferir: Devo usar a, à ou há na hora de escrever?
Palavras com grafias e/ou sentidos diferentes, mas com a mesma pronúncia, causam dificuldades, mesmo que sua ocorrência seja muito frequente. É comum que as dúvidas sobre o seu uso persistam, por isso convido-os a verificarem hoje, uma vez mais, as explicações e os exemplos de uso desses três termos homófonos:
Há – É uma forma do verbo haver, podendo ser substituído por outro verbo, como “existir”, e por isso é escrito com H. Isso pode ser verificado na frase “Há dúvidas na prova”, em que o verbo “Há” pode ser substituído pelo verbo “existir”: “Existem dúvidas na prova”.
Outro exemplo encontra-se na frase “Há dias que não o vejo”, em que o verbo “Há” pode ser substituído pelo verbo “Faz”: “Faz dias que não o vejo”.
N.B.: Observe que, mesmo utilizando a palavra no plural (dias), o verbo “fazer” não se flexiona; ou seja, diferente do verbo “existir”, que se flexiona no plural para concordar com “dúvidas” em “Existem dúvidas na prova”, não se utiliza a forma “fazem” diante de “dias”, pois no sentido de tempo transcorrido o verbo “fazer” é impessoal, e usado sempre no singular (faz).
A – Pode ser artigo, como em “A hora é essa”, ou preposição, como em “Estamos a horas de casa”. Vamos nos concentrar no uso da preposição, pois com relação ao artigo não há tantas dúvidas.
Veja que esse “a” não pode ser substituído por um verbo, pois não faria sentido dizer “Estamos faz horas de casa”, ou “Estamos existem horas de casa”. Trata-se da preposição “a”, que usamos quando nos referimos a distância (Curitiba fica a 237 km daqui) ou a tempo futuro (Ela deve chegar daqui a dez minutos).
À – Já esta forma é a nossa campeã quando se trata de dúvidas sobre sua utilização. Por vezes exageramos e estendemos o seu uso a casos onde não seria necessária ou adequada, como em “Ficamos frente à frente”; outras vezes deixamos de usá-la quando deveríamos fazê-lo, como em “Logo chegaremos aquele local”.
Espere um pouco… Vou usar acento de crase em “àquele”, diante de palavra masculina?!? Certamente, pois a crase não se refere a “local”, mas a “aquele”; temos a preposição “a” (que pode ser entendida no sentido de “em”) que se junta ao “a” inicial da palavra “aquele”, e por isso acontece a crase. A crase resulta da fusão da preposição “a” com o artigo “a” ou com o “a” do início de pronomes.
Uma regra que percebo que os mais jovens em geral não conhecem é a seguinte: “Quem vai a e volta da, crase há; quem vai a e volta de, crase pra quê?” Esse é o motivo por que escrevo “Vou a Brasília”, mas “Vou à Bahia”, pois volto de Brasília, mas volta da Bahia. Fácil, não?
Na indicação de horas usamos a crase: “As aulas começam às sete horas”, exceto se o artigo definido feminino (a/as) estiver precedido das preposições “desde”, “após”, “entre” e “para”: O jantar ficou marcado para após as 20h. – Nossa reunião foi agendada para as 15h30m. – Estamos esperando desde as 13h. –Sairemos entre as 12h e as 13h.
Quando a crase é opcional? Em três casos:
Após a preposição “até” – “Tiveram que caminhar até a/à escola” ou “Ficaremos esperando até as/às 17h”.
Diante de nome próprio feminino – “Os pedidos eram feitos a/à Joana”.
Antes de pronome possessivo com substantivo feminino no singular: “Dirijam-se a/à sua empresa”. Se o substantivo feminino está no plural, no entanto, o uso da crase torna-se obrigatório: “Dirijam-se às suas empresas”.
Outras dúvidas e exemplos surgirão, com certeza, em nossas experiências de escrita. Meu objetivo com este texto foi provocar uma breve reflexão que, juntamente com outras que já foram e serão feitas, contribua para o processo de construção da segurança em escrever.
Antes de encerrar quero agradecer a todas as pessoas que têm lido esta coluna, feito comentários, e sugerido matérias. Tenho me surpreendido positivamente com a repercussão dos textos, e ela me incentiva sempre mais. Obrigada!
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