O Árbitro Sumiu
COISAS DA BOLA são fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outras frutos da minha imaginação. Qualquer semelhança será puro acaso.
O certame varzeano de São Cristóvão vem acontecendo há mais de quarenta anos. Muitos fatos pitorescos e hilariantes ocorreram ao longo da trajetória dessa tradicional competição. Eis aí mais uma, com a minha participação.
Escalado para arbitrar aquela importante decisão, o amigo juiz já na quarta-feira sabia que atuaria no domingo e, começava a se preparar psicologicamente para bem desempenhar a sua função. Isso era o básico para o bom profissional, eu disse para o bom profissional, que não foi o caso desse mediador, que na sexta-feira, antevéspera do embate, foi para a noitada e encheu a cara de “manguaça”, chegando a sua casa só pela manhãzinha do sábado. Como a “dona patroa”, no uso de sua razão, quis saber onde sua “autoridade futebolista” tinha passado a noite, começou a perturbar a paciência do marido, até que ele, ainda com “os cornos cheio da mardita” e, já com o saco cheio de tanto blábláblá, desceu o cacete na esposa e posteriormente fugiu com destino ignorado.
No domingo da decisão, quando eu me dirigia para o Estádio de São Cristóvão, local do prélio, hoje com o nome de Migesão, encontrei o amigo árbitro, que me pediu uma carona para ir até a sua casa, alegando que precisava pegar a sua vestimenta para atuar na partida, justificando que estava vindo do trabalho, o que percebi rapidamente, que era pura mentira, tamanho o bafo de cachaça. De pronto, fiz meia volta na minha Brasília vermelha e fomos até a sua residência. Lá chegando, mal desceu do carro, apareceram a sua esposa e alguns vizinhos, que aos gritos e munidos de porretes partiram para cima do apitador. Em uma correria só, ele adentrou em sua residência, pegou o seu uniforme e, quando saíamos rapidamente em direção ao estádio, ganhei como presente o para-brisa trincado devido a uma porretada desferida pela esposa.
Após um banho de água fria no vestiário e uns copos de café amargo no botequim do campo, para amenizar o efeito da pinga, não antes de assumir a despesa do para-brisa da minha Brasília, o amigo árbitro adentrou as quatro linhas para dar início ao confronto.
Já com o cotejo em pleno andamento, um dos assistentes, bastante gozador e sabedor da “cagada” que o amigo tinha cometido com a esposa e, vendo que o veículo rural da polícia militar acabava de chegar ao estádio, cheio de soldados para fazer a segurança, levantou a bandeirinha, chamou o árbitro e, no seu pé do ouvido disse para ele que os homens da lei vieram prendê-lo por ter surrado a mulher. O árbitro, então, com medo ser preso saiu em uma correria e desapareceu no meio do mato e foi aquele alvoroço. Por sorte ou azar, um torcedor que estava assistindo a partida foi induzido a colaborar e fez a vez de um dos bandeirinhas que foi para o apito e, somente assim a partida teve continuidade.
O agravante de todo o ocorrido, foi a péssima atuação do novo árbitro e do bandeirinha colaborador, que devido a pressão dos torcedores e dirigentes das duas agremiações, chamaram o policiamento e abandonaram o campo de jogo e novo sururu foi formado. A partida, então, foi para o tapetão.
No decorrer da semana seguinte, as arestas foram aparadas e, no domingo com uma arbitragem da cidade de Canoinhas a competição teve o seu desfecho e foi proclamado um campeão.
Pivô de toda a confusão, o apitador batedor de mulher foi suspenso naquele resto de ano e, pode deixar descansando a navalha que escondia no seu boné quando apitava jogos.
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