O pequeno grande baixinho
“Primeiro cruzamos caminhos
Corremos o verde do tempo
Pisamos o chão como índios
Nascemos do mesmo luar
E, então inventamos o futuro”
Aproprio-me das primeiras frases da bela letra da, igualmente, belíssima canção, Parceiros, de Francis Hime e Milton Nascimento, para falar de um caro amigo, cuja amizade começou quando éramos ainda um pouco mais que meninos.
Conheci Eloi Arving de Lara em 1974, no Colégio Túlio de França, apresentado por outro caro amigo, José Carlos Kulicheski.
Estudávamos à noite naquele remoto ano, e, de vez em quando, Eloi levava seu violão, e, desde sempre a paixão pela música popular brasileira nos unia.
Saí do Túlio e fui para o São José, e, passei a me avistar menos com o “Baixinho”. No final dos anos 70, passamos, novamente, a nos ver com mais frequência. No início dos 80, quando assumi a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de União da Vitória e passei também a responder pelos assuntos culturais do município, estreitamos muito os laços de amizade, com o “Baixinho” mantendo um efêmero affair, com uma prima minha de Pato Branco, Maria da Graça Augusto, que aqui vinha passar férias. Foram muitas noitadas de viola, cantoria e batucada, que quase sempre acabavam em um café da manhã, ou na minha casa ou na casa dele.
Dessas noitadas resultaram algumas parcerias musicais, eu fazia a letra e ele a música. Assim nasceu o samba canção, Madrugada e a balada Anais do Tempo entre algumas outras que nunca terminamos.
Quando ele abriu a boite Olé Olá, pude matar a saudade de meus dias de DJ, já que nos anos 70, havia criado o Alucinasom, que tocava em festas. Na Olé Olá toquei algumas vezes, com total liberdade da escolha da seleção musical, bons tempos.
Em 1986, abrimos ao mesmo tempo, no extinto Shopping Micro, eu, a loja Estilo e ele, o bar Sabor & Arte.
Ambos os empreendimentos tiveram vida curta, a Estilo mudou de mãos e o Sabor & Arte mudou de lugar e virou Grafitti.
Mas foram tempos memoráveis de muita música e muito scotch, principalmente, as quintas-feiras, noite do karaokê, acompanhado pela banda da casa que tinha o próprio Eloi nos vocais e guitarra ou violão, Isaad, no baixo, Reinaldinho, na bateria e Guaraná, ora no trumpete, ora no baixo. Entre as mais memoráveis lembranças estão Eloi e Marcinha Gaspari cantando a lindíssima Corsário, de João Bosco. Outra bela lembrança fica por conta de outro caro amigo, Luis Antônio Oliveira, o então tenente Oliveira, cantando e acompanhando ao violão, a emblemática e, lindamente, poética, Rosa de Hiroshima, imortalizada pelo grupo Secos & Molhados, de autoria do mestre Vinícius de Morais.
Nas tardes de sábado depois de Eloi e Jô, o João Joedes de Lima, outro caro amigo, almoçarem em minha casa, íamos os três, mais Celsinho Passos, outro caro amigo, jogar sinuca, num boteco que havia na esquina da Benjamin Constant, com a Professor Cleto. Eu e Celsinho formávamos uma dupla e enfrentávamos Eloi e Jô. Nunca ganhamos, os três jogavam muito bem, eu apenas dava pro gasto, aí meu amigo…
Quando Eloi e Jô criaram o Grafitti, que além da música ao vivo, inseria o som mecânico, lá fui eu de novo exercitar minha veia de DJ. Mas o Grafitti não deu lá muito certo, Eloi então vendeu para Dario Bordin Lenci, outro velho amigo, que logo seria seu sócio na fundação da Banda By Brazil.
Quando a banda estava sendo montada e ensaiava no antigo Círculo Militar, certa tarde, Eloi me convidou para ouvir um teste de duas cantoras, candidatas a crooner da banda, uma era Andréa Gonçalves e a outra uma garota que não lembro mais o nome, mas que mais tarde casaria com Martim, o guitarrista da banda. Gostei da voz de ambas, mas disse a Eloi que achava que elas demorariam muito pra ser grandes cantoras, ao que Eloi disse: “elas aprenderão muito rapidamente”. Fiquei meio cético. Eloi estava certo elas se tornaram ótimas intérpretes.
Ainda durante a montagem da banda e de seu repertório, o “Baixinho”, me pedia sugestões. Sugeri então a bela balada do guitarrista Carlos Santana, Europa, em uma melancólica versão do saxofonista argentino Gato Barbieri. A música não só foi inserida no repertório da banda, como também por elas, e, por esta música e parte da banda, fui surpreendido em meu aniversário de 30 anos. De repente ouço um sax alto acompanhado de outros instrumentos, irrompendo em minha casa, tocando Europa. Quando a trupe vai embora, lá pelas tantas, depois de ter tocado clássicos e mais clássicos da MPB, saem tocando a música Se eu tivesse, da banda Blindagem, outra música que gosto muito. Foi uma das mais belas homenagens que recebi até hoje.
No início de 94, resolvi fazer uma serenata para a minha então namorada, hoje minha mulher, Margarete. Escolhi um sambão para acordá-la e depois Eu sei que vou te amar de Tom e Vinícius. Lá estava Eloi no violão, junto com Jonas Godinho, Isaad e Alceu Schwegler. Saímos dali, fizemos mais umas duas serenatas e acabamos num boteco até as seis horas da manhã.
São tantas histórias que uma crônica é pouco para contá-las, mas uma das mais recentes e emblemáticas foi quando, recentemente, na casa de Eloi, junto com outro caríssimo amigo, Luis Henrique do Prado Gomes, tocamos e cantamos Skyline Pigeon, uma das mais lindas baladas dos anos 70, de autoria do genial Elton John.
Eloi no violão, Luis Henrique no teclado, Wagner na percussão e eu nos vocais, foi uma catarse.
Para finalizar, novamente me aproprio dos versos de Parceiros, me utilizando de uma licença poética, para modificá-los:
Ao longo dos anos falamos de amor e outras rimas
Contamos com a força de muitos
Colocando voz nesses olhos
Que chegam pra nos encantar.
E as vozes se tornaram tantas
Que não há mais palco e platéia
A gente que canta e segue conosco
É o presente que deus nos legou
É parceiro
A gente que canta e segue conosco
É a respota que a vida mandou.
Leave a comment