O que escondemos atrás de uma gargalhada
Quantas viagens já fizemos, quantas ainda faremos, e a nossa viagem ao nosso interior? Penso ser esta a viagem mais difícil, pois encontramos situações, que não podemos ou não queremos encarar, no entanto é a mais rica viagem que podemos fazer, pois nos ajuda a nos conhecer, o que só nós podemos concluir.
Muitos desaprenderam como fazer esta viagem ou nunca aprenderam. Fernando Pessoa, com sua inteligência e sensibilidade, afirmava: “a melhor maneira de viajar é sentir”.
Na maioria das vezes o sentir nos machuca e nos faz sofrer, e por isso, fugimos de nós mesmos sem as repostas, das quais precisamos.
A cultura da fuga, é a mais comum, quando nós dizemos, ah, vou arrumar as malas e vou para bem longe, quero fugir dos problemas diários, quero descansar sem pensar em nada, quero ser outra pessoa longe daqui.
Será isso possível?
Nós já nos desconectamos várias vezes através da TV, das redes sociais, da nossa cama, onde queremos ficar bem quietinhos, e isso muitas vezes é bom e necessário, mas se ficarmos remoendo os problemas, com certeza, a qualidade de vida se deteriora, por isso, há a necessidade de organizarmos e fazermos uma viagem para dentro de nós.
Em uma conversa com amigos o assunto veio à tona, viagem ao nosso interior. A maioria disse sentir medo desta viagem, pois não sabe o que vai encontrar. Será que realmente, corremos o risco de nos machucar, neste percurso? Nós somos um pequeno universo, lotado das mais diversas emoções.
O psiquiatra Eric Bene costumava perguntar aos seus pacientes: “Onde está sua mente enquanto seu corpo está aqui?”
Resposta difícil. Relembrando a conversa com amigos, temos um, em comum, o qual estava a cada dia mais isolado, pensamentos distantes, seu sorriso sumiu, as gargalhadas, sua marca registrada já não ouvíamos. Reunimos a turma, que já era pequena, para um café, e o assunto era para falarmos sobre o nosso amigo, que não estava bem, queria apenas ficar em seu quarto.
Lembramos que há tempos falávamos sobre nossa paz de espírito, sobre como fazer uma viagem ao nosso interior, mas ele estava sempre animado, dizia que não precisava saber nada, estava sempre irradiando luz para todos, bom astral sempre, jamais pensaríamos que ele teria algo que viesse nos preocupar.
Certa ocasião ele desabafou dizendo:
– Pessoal, eu tenho feito relaxamento, meditação, mas não estou conseguindo dormir, até nos contou como procedia.
Para nós leigos, tudo estava perfeito, nada mais que um pequeno estresse, mas não imaginávamos que ele estava nos pedindo ajuda, como continuava a alegrar a todos com suas brincadeiras, piadas e gargalhadas, nem suspeitávamos que escondia algo tão grave.
Disse-nos certa vez que sentiu medo e parou de fazer meditação, não queria saber ou entender certas coisas que começaram a mexer com sua alma. Nós também ficamos sem saber o que fazer, pois aquele assunto mexia com nossos sentimentos.
Todos resolvemos ajudá-lo com conselhos de amigos. Quem sabe erramos, mas fizemos o nosso melhor, porém ele foi afundando, procuramos a família e nos juntamos para fazermos companhia a ele.
A situação ficou muito triste, o tratamento teve início, passaram-se muitos meses, e ele não se ajudava e nem podia, nem queria.
Como olhar para aquele amigo querido, que estava sumindo lentamente, sem “perceber”. O que fazer, será que estava consciente de toda a situação?
A família resolveu levá-lo para uma viagem, um lugar onde o sol nasce antes de todos os lugares do Brasil.
A esperança era que, em um lugar repleto da mais bela natureza ele ficaria bem.
Ledo engano, nosso querido amigo, hoje está internado em uma clínica. Continua em silêncio e prefere a solidão. Suas gargalhadas ainda estão esperando para sair de sua garganta. Muito triste!
Leave a comment