O smoking de meu primeiro baile
Conheci Luis Gonzaga Feijó nos anos 70, quando ele durante um período foi colunista social de Caiçara e mantinha, por conta disso, uma bela amizade com tia Lulu.
Lulu Augusto é a precursora do colunismo social em União da Vitória, iniciando essa atividade nos anos 50, já na época em que fundou o Jornal Caiçara e nos anos 60 aliaria o colunismo social à produção artístico/cultural independente, que resultaria na promoção de grandes bailes como glamour girl e na organização de shows com ídolos nacionais, como Juca Chaves, Martinha, Jerry Adriani e Wanderlei Cardoso entre outros e aos quais se associaria mais tarde, Luis Gonzaga Feijó.
Em dezembro de 1973, tia Lulu decidira ir ao Baile de Revellion do Clube Concórdia e iria acompanhá-la seus amigos Irio Rossa e Sulamita da Costa. Como a mesa tinha quatro lugares ela decidiu me levar junto. Eu meio ressabiado, no auge da timidez de meus 15 anos, acabei aceitando o convite. Mas havia um obstáculo, o traje era a rigor e eu, evidentemente, não tinha smoking. Tia Lulu disse que iria emprestar um de um amigo, que era nosso bravo Feijó, que como sempre muito gentil e cordial, emprestou o traje. Havia aí mais um complicador, com 15 anos eu já tinha a altura que tenho hoje, 1.83m e Feijó devia ter cerca de 1.75, portanto oito centímetros a menos do que eu e mesmo soltando a barra, a calça ainda ficou meio curta.
Como o paletó que era bordô, com a lapela preta de cetim, era comprido, pude deixar a calça bem baixa, meio Saint-tropez e que dessa forma cobria os sapatos.
Como eu não sabia dançar e mesmo que soubesse não me passava pela cabeça isso que para mim era um ultraje fiquei sentado enquanto lá estive e nem precisei me preocupar com a possibilidade de a calça estar curta. Só tive essa preocupação na chegada e na saída. De qualquer forma, meu primeiro baile, foi graças à boa vontade de tia Lulu e ao smoking de Luis Gonzaga Feijó.
Anos mais tarde, já na década de 80, Feijó voltaria para o Jornal Caiçara e participaria comigo e tio René de incontáveis happy hours.
No final de 1993, logo após o término de meu primeiro casamento, fiz um churrasco em minha casa, do qual participou Mário Patruni, Pasqualin, Tite, Zico, Celsinho, que levou as filhas Iriana e Mariana e Feijó que levou sua filha mais nova, Priscila. Comigo estavam minhas filhas Nina Rosa e Mayara.
Já antes do almoço, Feijó comandou na piscina um jogo de voleibol com as cinco meninas. De um lado ele, Mayara e Mariana, que eram mais novas e do outro Nina Rosa, Iriana e Priscila.
O almoço transcorreu animado, regado a chope e a várias tentativas de tirar as meninas da piscina. Elas almoçaram voando, como diria minha mãe e a sempre porta-voz da trupe, Mayara, acho que por isso que é advogada, veio me pedir para voltarem para a piscina. Eu disse que elas teriam que esperar pelos menos uma hora e que nesse intervalo fossem jogar vídeo game. A cada 15 minutos lá vinha Mayara querendo saber se já havia passado uma hora.
Na quarta tentativa eu as liberei e elas, imediatamente, foram recrutar Feijó para novas partidas de vôlei.
Lá foi nosso amigo para a água com a meninada, que não cansava nunca. O mesmo não acontecia com Feijó, que após vários chopes, muitos saques e muito sol e água, pediu água e foi deitar na escada que separava a churrasqueira da piscina.
Extenuado pelo voleibol e pelo chope, Feijó, mesmo mal acomodado pegou no sono e Mayara e Mariana compadecidas com o lugar desconfortável em que o amigo e companheiro de vôlei dormia, colocaram uma almofada sob sua cabeça.
Feijó logo acordou e me perguntou como aquela almofada tinha ido parar sob sua cabeça. Contei que fora por obra e graça de suas parceiras de time.
Ele se emocionou e foi lhes agradecer a gentileza e depois disse a mim e Celsinho, que elas só podiam ser nossas filhas.
Essas são belas lembranças, de mais um amigo que nos deixou muito antes da hora.
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