O sol nos ajuda a viver
O nosso clima está sempre mudando até podemos comparar com o clima de Curitiba, que mesmo não sendo inverno saímos de gorro, tomamos sopa, levamos guarda-chuva, mas na hora do almoço a roupa já é demais e nem sabemos o que fazer, se vamos almoçar vestidos para o frio ou se arriscamos sair e tomar um banho de chuva, e no final do dia, para voltar para casa , toda a roupa volta ao nosso corpo. Parece engraçado, mas é até difícil saber o que usar diariamente, são as quatro estações no mesmo dia, fabuloso.
Foi em um dia ensolarado, mesmo sendo inverno que encontrei um menino com um carrinho de picolé. Ele com seu apito seguia chamando a freguesia, e as crianças corriam atrás dele para comprar o seu picolé.
Eu estava sentada, em um canto da praça, lendo sob uma frondosa árvore, parei e fiquei observando aquele pequeno trabalhador. Hoje é comum vermos os meninos puxando carrinhos ou pequenas caixas de isopor comercializando o produto.
Sou muito curiosa, e com mais interesse observei o menino.
Percebi que ele era um bom vendedor, fazia sua propaganda chamando as pessoas para experimentar os sabores que estava vendendo.
Notei que muitos adultos se aproximaram para comprar, e em um curto espaço de tempo ele havia vendido tudo. Notei que ainda era cedo e o sol estava alto, e com certeza ele iria acertar a conta com o dono do sorvete e voltaria com mais.
Antes disso ele sentou-se bem perto de mim, aproveitando a gostosa sombra, minha curiosidade estava grande, ele tirou um pacotinho de plástico do bolso e jogou todo o dinheiro sobre um pequeno pedaço de papelão e começou a contar, recontou e pareceu ficar preocupado, só aí ele notou a minha presença.
Pareceu envergonhado por eu estar ali, olhei-o com carinho e lhe perguntei:
-Aconteceu alguma coisa? Faltou dinheiro?
Ele me olhou com os olhos mais tristes que eu havia visto, e me disse:
-Sim, mas não sei como isso aconteceu, pois eu cuidei muito, e sei fazer troco, faço a conta de cabeça, entendo bem de dinheiro.
Meu coração ficou apertado, pensei em como ajudá-lo.
Quis deixá-lo mais calmo e perguntei o seu nome, me respondeu que era Francisco, mas só o chamavam de Chiquinho.
Continuei a conversa.
-Você estuda, Francisco?
-Sim, eu estudo pela manhã e à tarde, quando há sol, eu vendo picolés.
-E o que você faz com o dinheiro?
-Bem, eu compro pão, leite e alguma mistura para o almoço de amanhã.
– Você sempre vende bem, percebi que vendeu tudo rapidamente.
-É que tenho fregueses aqui, sempre que o sol aparece eu corro para vender.
Continuei com minhas perguntas:
-Agora você vai buscar mais sorvetes para aproveitar o sol?
-Não, eu só tenho este período de venda, acerto as contas e volto para cuidar do meu irmãozinho, pois minha mãe trabalha em uma lanchonete e começa no final da tarde, ela espera eu chegar para poder sair.
Afirmei:
-Você é muito pequeno para tanto trabalho, porque a sua mãe não coloca seu irmão na creche?
-Ele está, mas conseguimos só meio período, pois há muitas crianças, assim nos dividimos para que todos possam trabalhar.
Olhei aquela criança e emocionada mudei o assunto.
– E aí, Francisco faltou muito dinheiro para você acertar a sua conta com o dono da sorveteria?
-Sim, não entendo o que houve, e agora nem posso levar pão e leite para podermos jantar.
Sabia que eu estava ali por alguma razão, e então falei:
-Moro ali naquela casa, vou até lá e já volto para ajudar você a resolver esta conta.
Ele ficou sentado por uma meia hora, quando voltei percebi a alegria dele, pois ele tinha a certeza, de que eu não voltaria.
Recontamos o dinheiro, acrescentei o que faltava e lhe desejei boa sorte.
Ele sorriu e me abraçou, disse bem baixinho:
Muito obrigada, a senhora é o meu anjo do dia de hoje.
“Pensei: que bom se eu pudesse ou fosse um anjo de verdade para poder tirar todos os pequenos “Franciscos“ do trabalho e deixá-los estudar e brincar aproveitando a sua infância sem ter que se preocupar em alimentar os irmãos.
Leave a comment