O valor de um amigo
Estávamos com a família sentados à mesa, matando a saudade conversando sobre o passado. Alguns primos perguntavam sobre os nossos avós, outros sobre algum tio que já faleceu, e assim a tarde foi passando, entre um café e um pedaço de bolo. De repente, entra correndo a filha do primo mais velho, com seus 7 anos, estava agitada, nem podia falar, respirava ofegante.
Procurou pelo pai.
Pai, pai, você precisa ver que lindo que é! Lindo e bem pequeno, ele é de uma raça que não cresce muito e vive bem no apartamento.
Ela não conseguia se explicar, pois apenas queria que seu pai a entendesse.
-Filha, o que é tão lindo? Fale devagar. Pare e respire fundo.
– Pai, é um filhote de cachorro, é o mais lindo do mundo, o dono me deu e disse que agora é meu, precisamos arrumar uma cama para ele, vamos para casa agora, papai.
O pai sem saber o que fazer, passou o problema para a mãe.
Filha, sua mãe sabe sobre este cachorro?
-Não, pai.
– Precisa falar com sua mãe.
Ele sabia que a mãe não daria permissão e tudo ficaria certo. Então disse à pequena.
-Veja com sua mãe, se ela deixar, por mim tudo bem. Todos nós, apenas assistindo à cena dos dois, sabíamos que ela com certeza, não levaria o cãozinho para casa. Cristina, a menina, saiu em disparada com os outros priminhos atrás dela, todos querendo ajudá-la a levar o bichinho para casa, a mãe estava conversando e trocando receitas com as tias, percebendo o barulho, levantou da cadeira para ver o que havia, pois ouvira a voz da filha.
-Mãe, mãe, o pai disse que se você deixar por ele tudo bem, você deixa?
A mãe sem saber do assunto cruza os braços e espera.
– Diga que sim, mãe!
Cristina, pode se acalmar e me dizer do que se trata?
A menina estava tão agitada que esquecera de explicar o motivo da afobação. Ao contar para a mãe toda a história, percebeu que ela não movera nenhum músculo do rosto, o que fazia com frequência, sendo assim a pequena sentiu ser um mau sinal.
Realmente, a mãe sequer se preocupou em demonstrar sua opinião. Enquanto a filha com lágrimas nos olhos percebia que a resposta seria um sonoro não.
Cristina, você sabe o trabalho que dá um cachorro dentro de casa? Sabe que eles também adoecem e precisam de veterinário, medicamentos, banho e outros cuidados que custam muito?
A menina nem argumentou, porque sabia que a mãe era enérgica, e que o “não” dela, era não mesmo. Sentiu suas forças indo embora levando com ela sua alegria em ter o seu cãozinho lindo. Voltou para junto do pai e chorou muito no ombro dele. Foi um momento constrangedor para todos nós, porque sabíamos o motivo, mas não ousamos perguntar. Ela chorava e soluçava. O pai estava sem saber como agir, tentava acalmar a filha, mas sem sucesso.
Depois de um bom tempo, ela apenas enrolava com o dedo, os cachinhos de seu cabelo. Dava pena de ver tanta tristeza em seu semblante. De repente, ela deu um salto na frente do pai e disse:
– Pai, posso ir me despedir do cãozinho?
– Pode, querida, mas não demore, sua mãe quer ir logo, embora.
– Tudo bem, papai.
E lá foram todos correndo para a casa do dono do cachorro. Quando chegaram, o senhor saiu com o cãozinho na mão, pensando que ela viera buscá-lo.
-Não vim buscá-lo porque minha mãe não deixou, mas será que posso pegá-lo um pouquinho e levá-lo para meu pai conhecer?
-Pode sim, apenas cuide bem para não o derrubar, pois ele é um bebê.
Saíram em disparada. Ao chegarem, os pais estavam aguardando a para irem embora.
Pai, mãe, vejam trouxe para se despedir de vocês.
Todos ficaram admirados com a beleza do cãozinho, era uma bolinha de pelos brancos com manchinhas da cor do caramelo, nas orelhinhas. Com certeza, não cresceria muito, pois era de porte pequeno. O pai muito intrigado perguntou:
– Onde você pegou este filhote, pois é um Lhasa Apso de muito valor. Vamos falar com o dono.
A pequena não entendeu nada, mas foi com o pai à casa do dono do cachorrinho.
Lá o pai ficou sabendo que o dono do filhotinho estava com sua mãe, há muito tempo no hospital e que o filhotinho era dela, mas como ela adoeceu, ele não podia criar o bichinho, então resolveu doá-lo para a menina, que demonstrou muito carinho por ele.
Os pais de Cristina resolveram adotá-lo para a alegria da menina, que não entendera nada com a mudança de atitude.
No carro, com o filhote no colo, ela perguntou:
– Por que vocês mudaram de ideia?
– Filha, este cãozinho tem muito valor.
Sem entender, ela pensou no valor que os amigos têm, um cãozinho sem raça nada valia, difícil entender. Abraçou seu amiguinho e não pensou mais no assunto.
E os nossos amigos, quanto valem para nós?
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