O velho-novo moralismo dos novos-velhos
…apenas para lhes formular uma pergunta, a vocês analistas: sim ou não, isso que vocês fazem tem o sentido de afirmar que a verdade do sofrimento neurótico é ter a verdade como a causa? (Lacan)
O canalha é o metalinguista. Vou ser transparente. O que eu digo me afeta. O que eu digo ao outro, talvez o afete, posto que é ouvindo meu inverso que ele se ouve. A palavra divide, a mim, a você, aos interesses vizinhos, disto decorre a vontade de fazer Um, coesão, grupo, identidade. Então repousa nesse acordo mais ou menos capenga a política, a religião, a lei, como o elemento fora do conjunto que serve à organização do que, no conjunto, é contraditório, excedente. Seu exercício, consiste, portanto, numa ampla discussão acerca dos acordos sobre os quais repousa o grupo que os definiu. Uma vez estabelecidos e aceitos nada impede que sejam revistos a todo tempo, uma vez que a lei não é estática, justamente porque sua revisão deve acompanhar a ética, isto é, o desejo do conjunto. Onde começa a canalhice? Na metalinguagem. A metalinguagem não é a linguagem falando da linguagem, porque, ora, isto é linguagem (o código do código é um código; o catálogo dos catálogos é um catálogo) mas pura e simplesmente a canalhice. O código é um acordo, impessoal, código que serve àqueles que falam tal código, e que se relacionam tão somente no interior desse código. O que há fora do código? Ora, outros códigos, as trocas simbólicas só se dão pela sua mediação. Mas o metalinguista trapaceia, é oportunista. Se o inconsciente é a superfície, precisamente a borda (percorra uma fita de Moebius) o dentro que é fora, e que portanto, como a lei gostaria, ordena seu efeito, o canalha é justamente aquele que assume negando cinicamente. Isto que digo serve, pra vocês (entendeu?), agora lá em casa, no meu círculo, aí, neguinho, as coisas mudam. É a posição perversa por excelência, ele mente ao desmentir, sua moral imaginária (a imagem da sua moral) se presta aos outros, enquanto que aos seus, não. A mesma canalhice acontece perante a lei. É estritamente fácil manipular o sentido, porque a interpretação é o desejo, uma vez que o sentido é só uma flecha, basta girar girar pra tontura virar estulta. Pois não é nunca disso que se trata. Se o metalinguista age perversamente (“você pensa que tá falando com quem?”) é a própria linguagem que deve encurralar sua pretensa intenção, porque, assim como a lei da lei da lei… não é lei (tem que haver um limite, e tem que ser para todos, ou então, para ninguém) a velhice só consegue atualizar sua canalhice quando encontra algum novo (velho), disposto a conservar seu código.
Meu total apoio àqueles que ocupam espaço. Eles nunca estão vazios.
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