Outra de minhas mais caras amigas
Em uma de minhas crônicas em que abordei uma de minhas mais Caras Amigas, minha filha Mayara, falei, ou ao menos tentei falar daquilo que sustenta uma amizade. Cheguei a conclusão que as afinidades nos levam à cumplicidade e daí a admiração.
Portanto, é preciso que admiremos aqueles que nos são caros, resguardadas aí as diferenças, os pontos de vista conflitantes, afinal, ninguém é igual.
Isso tudo que digo, define minha relação com outra de minhas mais Caras Amigas, minha filha Nina Rosa, que nesta quinta-feira, 16 de setembro de 2010, completou 27 anos.
Nenhum filho é igual ao outro, é verdade. Mas muitas vezes, ambos e aí é o caso de minhas filhas Nina Rosa e Mayara, guardarem muitas semelhanças entre si e também comigo. Por exemplo, gostamos muito de cinema, de música, da arte em geral, torcemos pelo Fluminense, além de compartilharmos de muitos pontos de vista de ordem política, sociológica e antropológica, sempre respeitando nossas divergências.
Quando Nina Rosa era ainda um bebê e dormia muito mal, acordando inúmeras vezes durante a noite, eu a fazia dormir dançando com ela em meu colo ao som, primeiro de Fullgás, com Marina Lima e depois com Out of time, dos Rolling Stones e ainda com uma musiquinha que a torcida do Fluminense, campeão brasileiro de 1984, e tri-campeão carioca em 83, 84 e 85, cantava para seus ídolos e que dizia: “nós não podemos mais desanimar, o nosso time muitas alegrias vai nos dar, porque temos Delei, Washington, Romerito e Assis”. Até aí nada de mais, de Marina Lima, Nina gosta um pouco, gosta bastante de algumas coisas dos Stones, em especial desta que foi sua canção de ninar, mas o que mais me chama a atenção é o fato dela lembrar e saber cantar a música da torcida tricolor que ouviu nos primeiros anos de sua vida.
E assim cresceu Nina Rosa, ouvindo muita música, assistindo muitos filmes, lendo muitos livros, que, provavelmente, a tenha motivado a prestar vestibular para Jornalismo na UEPG, em julho de 2000, com apenas 16 anos.
Ela ainda não havia concluído o ensino médio, que fazia em Curitiba no Colégio Dom Bosco. Decidiu tentar mesmo assim e entre quase 300 candidatos, foi aprovada em 20º lugar.
Não concluiu o curso optando em voltar para Curitiba, onde foi aprovada no mesmo ano em dois vestibulares: UFPR, em Filosofia e Faculdade de Artes do Paraná, em Artes Cênicas – Bacharelado em Direção. No vestibular de Filosofia obteve a nota mais alta entre todos os concorrentes do curso, em Redação e na FAP entre 150 inscritos, foi aprovada em terceiro lugar. Havia achado então sua vocação, o teatro e as artes.
Ao completar 18 anos, me pediu de presente uma ida a São Paulo para assistir ao show do Belle & Sebastian. Fomos, eu e ela, Como ficamos dois dias inteiros, obviamente que fomos ao cinema e ainda lembramos o filme que assistimos: Barra 68, um documentário sobre a arbitrária e truculenta invasão da UNB pelos militares e polícia, em 1968. Fomos ainda ver a genial exposição Parade, na Oca do Ibirapuera. Entre obras de vários artistas plásticos fantásticos, lá estavam obras definitivas do iconoclasta Marcel Duchamp. Na noite de sábado fomos ao Jockey Club ver a banda escocesa Belle & Sebatian. Abrindo o show se apresentou a banda americana Grandaddy e os islandeses Sigur Rós, cuja canção Sven G Englar, nos arrebatou entrando para o rol de cada um de nós, como uma das mais belas canções do rock, embora a banda seja rotulada como post-rock. Finalmente veio o Belle. Catártico, arrebatador. Nina completava 18 anos e eu com 43, me lembrando naquele momento da canção Somos todos iguais nesta noite, de Ivan Lins, me sentia mais amigo do que nunca de minha filha. O Rós e o Belle nos punham em comunhão, momentaneamente, quebrada quando Nina me pediu para fumar. Eu sabia que ela fumava, uma vez que ela não o fazia escondido, mas até então não fumara em minha frente. Assenti, mas aquilo me fez perceber que minha filha não era mais uma menina, era uma mulher. Saímos na madrugada paulista reconfortado e reconciliado com nós mesmos.
Nina Rosa hoje é uma mulher, com quem tenho prazer de sentar a uma mesa, seja de minha casa, de seu apartamento, de um bar e termos longas conversas falando de tudo e às vezes de nada.
A exemplo de minha outra filha, tenho orgulho de ser pai de Nina Rosa, uma mulher articulada, culta e para minha felicidade, uma de minhas mais caras amigas, que como certa vez, disse o poeta e contista Claudio Dutra, ao falar sobre as afinidades eletivas, usando de uma licença poética, cunhou o termo, cabelos iguais. São assim nossos cabelos.
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