Prioridades
Não dá mais para protelar. A saída ao banco é inevitável! Desde o começo da pandemia tem se esquivado das idas à agência, sabe que o distanciamento social é uma das formas mais eficazes de manter o vírus afastado. Na verdade, anda fazendo tudo pelo celular, depósitos, transferências, consultas… mas sacar, só mesmo no local. Prepara-se para enfrentar o mundo exterior: em frente ao espelho veste cuidadosamente a máscara para que cubra bem o nariz e a boca, passa álcool em gel nas mãos, e é só. Já não perde tempo se maquiando, os batons antes tidos para si como essenciais, foram esquecidos numa gaveta, assim como todo aparato de beleza; resta apenas o filtro solar, já que os tecidos das máscaras não protegem dos raios solares, pelo menos não as suas. Enfim, respira fundo e vai. Na fila do banco, do lado de fora da agência — regra imposta para evitar aglomerações — olha para trás e vê uma cidadã quase encostada em seu corpo! É pega desprevenida, e dá um salto para o lado, instintivamente começa a discursar em alto som (jamais fugirá às raízes do magistério) da vital necessidade de se manter longe o suficiente de outras pessoas para que o coronavírus não possa se espalhar, e sobre respeito. Aproveita para falar da máscara, alguns indivíduos a tem no pescoço, ou cobrindo somente a boca. Antes de comentar sobre a importância do álcool em gel, quando se está longe da água e sabão, desiste. Tem a nítida impressão de ser odiada por uns, escutada por poucos e ignorada pela maioria. O episódio leva a pensar, e parafrasear Albert Camus, no livro A Peste: enquanto a “pandemia” aumenta, a moral das pessoas se torna elástica. No caminho de volta para casa sente-se pensativa, suas aulas sempre despertaram à atenção dos alunos… E se da próxima vez discorresse sobre a frustração sentida quanto à maquiagem abandonada?
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