Professores inesquecíveis II
Semana passada mencionei aqui os professores que me deram aulas no Externato Santa Terezinha, Túlio e São José, e que ficaram, indelevelmente, marcados em minha memória. Eu ainda garoto e depois pré adolescente e adolescente, vi e ouvi, primeiro sob o ingênuo e como tal, distorcido, olhar da infância, as notícias cada vez mais atrozes de torturas e total supressão das liberdades individuais, perpetradas por uma terrível e temível, ditadura militar. Depois já com o olhar da rebeldia, próprio dos adolescentes, comecei a entender o que eram, como diz a canção, aqueles tempos de vândalos nas madrugadas, de disparadas, de travessias e de correrias desenfreadas e vi também o duro regime militar começar a se distender e culminar na anistia de 1979, até hoje discutível e agora, finalmente, discutida, pois beneficiou não apenas as vítimas das atrocidades, mas também aqueles que cometeram tais atos de barbárie, nos porões da ditadura.
Em 1978 comecei a faculdade de administração e travei contato com alguns professores que por este ou aquele motivo sabiam cativar seus alunos, ou mais especificamente, este cronista. Começo por Joacir Manoel Inácio, um dos precursores da linguagem da informática e pré internet. Airton Maltauro Filho, professor de Estudos dos Problemas Brasileiros, sabia como poucos, abordar os mais candentes temas que o Brasil vivia e nos dava aulas que nos prendiam muito a atenção, suscitando acaloradas discussões. Eneida Fagundes da Silva era professora de Estatística e conduzia com maestria aquela disciplina. Delci Hausen Christ era a professora de Psicologia aplicada à administração e sabia como nortear aquela disciplina não só com seu conhecimento, mas com tal, habilidade que cativava a todos e despertou meu interesse pela psicologia, e, especialmente, por Freud. Tive, não lembro se era Introdução ao Direito, ou Legislação Social, com Luís Alberto Blachet, na época advogado da Copel e que com maestria, transcendia o estudo do direito, indo muito mais além. Manoel Claro Alves Neto, um militar liberal, foi meu professor de Sociologia e nos envolvia, com seu imenso carisma, em discussões sobre polêmicos temas, como liberdade, socialismo, burguesia entre outros, obtendo, invariavelmente, surpreendentes resultados. Deixei por último o Dr. Ciro Côrrea, um cavalheiro de cultura enciclopédica, que ministrava Teoria Econômica e nos mergulhava nas basilares teorias de Marx, Pareto, Ricardo, Adam Smith, Ortega Y Gasset entre tantos outros. Nasceu de suas aulas meu interesse pelo socialismo utópico dos pré marxistas, que me levaram a Hegel, que me fez voltar a Marx, que me remeteu a Revolução Industrial e, consequentemente, a Adam Smith e daí a Teoria das Elites, de Ortega Y Gasset, passando para o Anarquismo, de Bakunin, Proudgon, Malatesta entre outros.
Depois fui cursar História na FAFI e tive a satisfação de ser aluno da extraordinária Edy Santos da Costa, que ministrava com extrema competência e com grande ardor, Filosofia. Edy era genial, fumante inveterada, me deixava embasbacado ouvindo-a falar desde os pré socráticos, a Rousseau, Descartes, aos pré existencialistas como Kierkegaard, aos existencialistas, como Heidegger, Sartre, Simone de Beauvoir, culminando nos filósofos da Escola de Frankfurt, como Adorno, Walter Benjamin, Habermas e Marcuse. Edy foi, sem dúvida, uma mulher à frente de seu tempo.
Finalmente, me reporto ao mestre, meu dileto amigo e meu mentor intelectual, professor Almir Rosa, que nos levava a passear pela Revolução Francesa, Revolução Soviética, Revolução Cubana, pelas libertações dos países latino-americanos, pela recente história do Brasil. Almir foi, e, é, um mestre na mais pura acepção da palavra e como disse na crônica sobre sua pessoa, saiu da cena acadêmica cedo demais, deixando uma lacuna impreenchível. Felizmente tenho o prazer de desfrutar de seu convívio.
Volto ainda ao assunto, professores inesquecíveis, para falar de meus mestres em meu mestrado em Comunicação e Linguagens, em especial, sobre Décio Pignatari, recentemente, falecido. Décio foi meu orientador, meu amigo e um dos maiores intelectuais brasileiros contemporâneos.
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