Qualquer dia a gente se encontra…
Estou a dois dias tentando escrever essas linhas. Como resumir o que estou sentindo em tão pouco espaço. Talvez para isso precisasse de um jornal inteiro. Pensei então, em me ater apenas ao essencial. Mas como ficar no essencial se Rita era o essencial.
Vou tentar assim mesmo, preciso fazê-lo, para tentar ficar um pouco menos atônito menos perplexo.
A partida de Rita foi atroz demais, veloz demais. Ficou o fulgor de seu brilho intenso, irradiado pelo seu sorriso largo, franco, verdadeiro, magnetizante.
Como sintetizar em tão poucas palavras alguém, verdadeiramente, grande. Talvez começando pelas lembranças de momentos tão agradáveis.
Acho que no período em que Margarete trabalhou no estado do Paraná e por isso viajava muito, não houve uma única vez em que eu e Rita não saímos para um chope, uma cerveja. Compartilhávamos nossas angústias, nossos anseios e o amanhã, que sabíamos chega cedo demais.
Eu nunca fui um grande dançarino. Sei que sou meio desajeitado e me atrapalho ao tentar coordenar meus movimentos. Mas com Rita isso era diferente, ela sabia compreender e interpretar minha pouca habilidade na arte de bailar e eu virava, de repente, um grande bailador.
Certa vez estava com Margarete em uma casa de forró em João Pessoa e liguei para Rita dizendo que iria mandar uma passagem para ela ir nos encontrar. Boas e felizes lembranças. Em outra ocasião estávamos em Blumenau em uma festa da família, que tanto Margarete, quanto Rita não encontravam há algum tempo. Marga, como não poderia deixar de ser, passou a maior parte da noite conversando com seus tios, tias e primos. Rita conversou um pouco e me tirou para dançar. O fizemos por horas, a ponto de ficarmos empapados de suor. Inesquecíveis lembranças.
Nossa última saída sozinhos foi no final de 2019. Marga e Mariana estavam em Joinville, visitando Isabela, Iriana e João Paulo. Não fui junto porque dali há alguns dias iria, com Nina Rosa, para San Francisco.
Liguei para Rita e a convidei para um chope. Ela mesmo andando com dificuldade, de muleta devido a um problema no quadril, aceitou. Fui buscá-la a pé em seu apartamento. Fomos ao Filomena que era o bar/restaurante mais próximo. Tomamos incontáveis chopes e fechamos o local. Memoráveis lembranças.
Isso tudo sem falar nas incontáveis vezes que ela nos acompanhou, nas coisas que eu promovia enquanto estava na extinta Fundação de Cultura de União da Vitória. Impagáveis lembranças.
Rita esteve em várias vezes conosco na praia. Esteve em Peruíbe, Bombinhas e Penha. Em janeiro de 2015, eu reservei uma semana, na Pousada Canto das Pedras, em Zimbros. Como de praxe paguei a metade já na reserva. No início de janeiro Marga, que ocupava a chefia do Escritório Regional da Secretaria da Família em União da Vitória, foi comunicada que não poderia tirar férias naquele mês. Mayara acabara de se mudar para São Paulo e Nina Rosa envolvida em um grande projeto teatral também não poderia me acompanhar, dispondo-se entretanto, a me levar e buscar. Mariana também não podia se ausentar da Casa dos Óculos e Iriana não tinha direito a férias naquela ocasião. Convidei Rita então, que depois de pensar um pouco, aceitou o convite. Foi uma semana muito agradável. Rita gostava de acordar bem cedo e eu não. Ela deixava um suco pronto, pois não bebo café, e, frutas cortadas. Eu ia encontrá-la por volta das10h. Lá pelas13h30, voltávamos para ela preparar o almoço. Íamos, novamente, para a praia e á noite inventávamos um churrasco ou algo assim. Ficamos amigos de uns argentinos que experimentavam a nossa carne e nós a deles. Na sexta-feira, Nina chegou para nos buscar. Rita preparou considerável quantidade de camarão a paulista, que elas degustaram com prazer, regado a cerveja geladíssima. Como eu não gosto de camarão, Rita preparou iscas de peixe a milanesa e casquinhas de siri, regadas sempre por um scotch. Eternas lembranças.
Rita amava a música popular brasileira e sempre me enviava canções que garimpava no You Tube, assim como eu enviava para ela. Num dos últimos cds que ela gravou para mim, estão canções do último trabalho de Adriana Calcanhoto, que ela amava, e, uma memorável gravação de Os amantes, de Luis Ayrão e Daniel, em seminal gravação de Roberta Sá, Paulo Miklos e Os Demônios da Garôa. Eu já me emocionava as lágrimas ouvindo essa gravação lembrando de meus tios René e Lamartine. Agora, ao escrever essas linhas, derramo muitas lágrimas de saudade e de perplexidade.
No final de setembro, do ano passado, Rita esteve aqui em casa e lhe apresentei a música da italiana, Chiara Civello. Rita amou o disco que ouvimos ainda algumas vezes em dezembro e janeiro. Mais uma indelével lembrança.
No velório de Rita, padre Silvano, ao terminar sua oração perguntou se alguém queria dizer alguma coisa.
Pedi autorização para Margarete para fazê-lo. Fui autorizado e em minha breve fala, agradeci a Marga e sua família por terem permitido que ganhasse a irmã que não tive. À Rita agradeci a honra da escolha de ser padrinho de seu filho Diego. Triste lembrança que jamais será esquecida.
Encerro essas mal traçadas linhas me apropriando do belo verso da canção de Ayrão e Daniel:
Qualquer dia, qualquer hora, a gente de encontra, seja onde for pra falar de amor.
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