Quando o futuro constrói a História
Permitam que nesta semana, caros leitores, eu opte por não tratar, nestas linhas, de nenhum episódio específico da história de nossas cidades. Ao invés, consintam que eu escreva, nesta semana, sobre um episódio que ocorre neste mesmo instante em que escrevo, e que em breve poderá trazer proveitosos frutos para nossa comunidade. Trata-se do resgate da trajetória de nossos antepassados, o qual ganha força a cada dia e é levado a efeito por uma geração nova, ativa, interessada e muito inteligente, que já começa a projetar o nome de nossas cidades em importantes espaços voltados ao intercâmbio de conhecimento.
Encontro-me nesta semana em Foz do Iguaçu, onde acompanho uma jovem e promissora pesquisadora de nossa história no Ficiencias. Trata-se de um evento de acentuada importância, no qual estudantes e professores de várias localidades do Paraná, do Paraguai e da Argentina se reúnem para trocar experiências, apresentar suas pesquisas e deixarem-se conhecer por profissionais e entidades de fomento ávidas por novos talentos no campo científico. E no qual nossa história se faz presente graças aos esforços de Aline Bueno, estudante de quinze anos, autora da pesquisa “1905: quando trilhos foram mais do que caminhos”. Neste trabalho, já apresentado à nossa comunidade na 1a Mostra de Inovação, Pesquisa, Extensão, Ensino e Cultura do IFPR campus União da Vitória, realizado em agosto, e à comunidade de todo o Paraná no 4o Seminário de Extensão, Ensino, Pesquisa e Inovação do IFPR, ocorrido no mês de outubro em Paranaguá, foi realizado um esforço singular. A busca pelo resgate de uma história que conversa conosco no dia a dia, nos convidando a conhecer nossas origens através de prédios, monumentos e espaços urbanos que podem nos oferecer muito mais do que apenas uma rota para o trabalho ou do que uma paisagem já bastante familiar.
Como objeto central da apresentação de Bueno, os trilhos da ferrovia que chegaram em 1905 a Porto da União, mais tarde Porto União da Vitória, finalmente Porto União (SC) e União da Vitória (PR). Com eles, profunda alteração dos perfis urbano e demográfico da cidade, com a construção de novos prédios, de um pujante comércio, com a chegada de novos moradores que, em algum momento, foram apenas passageiros das composições que estacionavam com cada vez maior frequência nas estações que se sucediam no tempo, em ambas as margens do rio Iguaçu.
Ao analisar as consequências da chegada da ferrovia, a autora analisa um processo longo, rico e central para a compreensão do que somos e do que fomos antes de chegar até aqui. E, de quebra, advoga em tons fortes a necessidade de preservação de uma história fantástica, porém pouco conhecida e valorizada por nossa gente. Dos prédios tão bonitos quanto importantes historicamente que permanecem desprotegidos, à mercê de alterações arquitetônicas que atentam contra a singularidade de nossos centros históricos. De uma ferrovia hoje abandonada, frequentemente associada às calamidades do conflito do Contestado (1912-1916), mas que foi a responsável por um desenvolvimento singular de nossas cidades, pela visita de singulares personagens históricas (Afonso Pena, Theodore Roosevelt, Getúlio Vargas, para citar apenas três) e pela maravilha arquitetônica representada pelos prédios construídos de acordo com os princípios do art déco francês.
Este trabalho, tão fascinante quanto complexo, é levado a efeito por uma jovem de apenas quinze anos, que já começa a voar almejando alcançar cada vez maiores altitudes. Sem abandonar jamais, contudo, as raízes que a mantém voluntariamente vinculada à sua querida Porto da União. Ainda há muito a ser feito, ainda há muitas questões que devem ser respondidas. Mas não faltam a Aline Bueno as qualidades necessárias para levar a bom termo os objetivos traçados quando da concepção de sua pesquisa. E à nova geração de nossas cidades, o interesse e a competência necessária para levar adiante uma missão de resgate histórico que está apenas em seus primeiros passos. Fiquem atentos, portanto, caros leitores! Serão os nossos jovens quem, muito em breve, nos ensinarão a reverenciar, com competência e alegria, nossos antepassados e nossa história. Para felicidade de toda a nossa comunidade.
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