Questões de Preposição
As seguintes expressões, apesar de parecidas, têm sentido contrário: “ao encontro de” e “de encontro a”.
-Ao encontro de significa “em concordância com”.
Se digo que minhas ideias vão ao encontro das suas, quer dizer que elas estão de acordo com as suas, que concordamos sobre o assunto.
– De encontro a significa “contrário a”.
Se minhas ideias vão de encontro às suas, isso quer dizer que nossas ideias são contrárias, se chocam.
O que determina o sentido, nesse caso, é o uso apropriado das preposições de ou a.
Preposições são palavras invariáveis, pois não sofrem flexão de gênero, número ou variação em grau como os nomes; nem de pessoa, número, tempo, modo, aspecto e voz, como os verbos; mas são indispensáveis para a construção e compreensão dos textos, pois conferem-lhes estrutura e coesão, relacionando-se aos outros termos das orações. Nem sempre, porém, o seu uso é óbvio.
Vejamos mais alguns exemplos que podem causar confusão:
1) Como diferenciar o uso de dentre e entre?
Dentre é uma composição de preposições: de + entre. Somente será usada, portanto, com verbos que exijam ao mesmo tempo as duas preposições: sair, tirar, surgir, extrair, e similares, pois regem a preposição de: sair de algum lugar, tirar de outro, ressurgir de.
2) TV em cores ou TV a cores?
Apesar de não mais ser tão comum, ainda há quem assista à TV em preto e branco. Da mesma forma, assistimos à TV em cores. Para ter certeza, basta verificar outros exemplos:
– O folheto será impresso em diversas cores.
– Milhares votaram em branco.
3) A presença da preposição não indica automaticamente presença de crase
Apesar de extensamente difundida, a noção de que “crase” é o nome do acento grave que se coloca sobre a letra “a” está errada; crase é a fusão de duas vogais “a”, sendo uma delas a preposição; e a ocorrência de crase é marcada pelo acento grave.
Quando não se tem certeza se ela ocorre, vemos, infelizmente, que é comum que se acrescente o acento grave a qualquer frase. Melhor seria primeiro procurar compreender se ela é necessária ou não. Se tiver que responder sem pensar, talvez o leitor diga que escreveria também assim a seguinte frase: “Parabéns à você!” Essa forma, no entanto, não está correta. Vamos seguir o conselho de Pasquale Cipro Neto, no caso da crase, e olhar para os dois lados: Do lado esquerdo está a palavra “Parabéns”, que rege a preposição “a” (parabenizamos “a” alguém); tempos, portanto, a preposição. Mas será que temos também o outro “a”, sem o qual não ocorre crase? Do lado direito está o pronome “você”, que não pede o artigo feminino. Por que duplicaríamos o “a” neste caso, se também não se usa “Eu gosto da você”, ou “Estive pensando na você”? O pronome “você”, como tantos outros (mim, nós, alguém, etc.), não admite artigo, portanto não se acrescenta um acento grave ao “a” que os antecede; esse “a” é apenas uma preposição, não é a fusão de uma preposição com um artigo.
4) Regência de preposição
Num período simples, é mais fácil ver a necessidade do uso da preposição: “Eu gosto de livros”. Acrescentando-se, porém, um pronome relativo que liga duas orações, já surge a dúvida: “Ganhei todos os livros que gosto”. Certo? Errado! Na primeira frase tenho certeza de que a preposição “de” é necessária, pois quem gosta gosta “de” alguma coisa. E o que mudou na segunda frase, se continuo usando o verbo “gostar”? Nada! A preposição continua sendo necessária, e eu devo dizer: “Ganhei todos os livros de que gosto”.
Mais uma observação que considero aqui bastante oportuna: Os verbos acarretar e implicar são transitivos diretos; ou seja, não regem preposição. Portanto, não use “acarretar em” ou “implicar em”. Veja alguns bons exemplos de uso:
– O terremoto acarretou enormes despesas.
– Morar no Brasil implica o pagamento de muitos impostos.
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