Salões de beleza & problemas
O assunto focalizado nestas linhas é mais velho do que Matuzalém, porém, como tudo tem seu fim – esperávamos que, com o passar dos tempos e a evolução natural das coisas, esse feio defeito tivesse desaparecido do meio de uma cidade que se diz civilizada. Mas assim não aconteceu.
Fomos procurados por algumas senhoras e senhoritas, estamos, portanto, sendo porta voz dessas pessoas. As pessoas em pauta nos trouxeram variadíssima bagagem sobre fatos acontecidos em alguns salões de beleza de nossas cidades. A pedido das mesmas, por ora, não vamos entrar em pormenores, não citando nomes das pessoas envolvidas nem dos salões, o que faremos, se voltarem ao assunto.
Infelizmente, pouquíssimos salões de beleza conservam aquele ditado que assevera: “Se teu interlocutor fala mal dos ausentes – falará mal de ti quando te ausentares”.
Todos sabem de sobejo que, em lugares onde existe reunião de mulheres, irresponsáveis, se comenta de tudo e de todos. Ali se fala da vida particular de todo mundo: ali se comentam amores de fulano e sicrana; ali se calunia; ali correm de boca em boca difamações que se sabe por ouvir dizer; ali se dilapidam honras, mancham nomes e destroem lares. Se fossemos citar aqui, todos os fatos acontecidos em certos salões de beleza, onde se comenta desastrosamente sobre a vida alheia. Sobre fatos particulares que não atingem as estruturas da sociedade, portanto é um assunto puramente pessoal – portanto, cada um vive como quer, pois a vida lhe pertence… se fossemos citar nomes e fatos as senhoras e senhoritas que não tomam parte nessa trama diabólica, não mais freqüentariam os salões que então seriam citados, com medo de ver seu nome envolvido nessa baixa e nefanda política que cria corpo em certas reuniões.
Felizmente, são poucos os salões que, com a anuência da proprietária responsável passam em revista a vida alheia – deixando a sua para traz e que talvez, merecesse grandes manchetes… E assim, misturam-se a nata com o bagaço e o luxo com o lixo, daí se originando o que dizemos. Se houvesse a separação do lixo e do luxo, não haveria também falatórios sobre a vida alheia, pois as senhoras responsáveis, as senhoras da nossa sociedade não se prestam a tal papel e não se misturam em conversinhas próprias de gentalha. Portanto, há uma necessidade urgente da separação. Os salões que recolhem o lixo, que fiquem com ele não deixando que senhoras distintas se misturem, assim, muitas senhoras e senhoritas não estarão correndo o risco de um dia estarem envolvidas em conversas de grande gravidade, como aconteceu ultimamente, quando nomes foram enxovalhados, enlameados por más línguas, por línguas viperinas que não tem o que fazer.
As proprietárias dos tais salões de beleza, em grande parte são culpadas, responsáveis pelo que ali se comenta e acontece, pois têm elas autoridade suficiente para impor sua vontade, mesmo correndo o risco de perder a tal freguesia. É dever das proprietárias de impedir de modo imperativo e categórico, comentários desairosos sobre a vida particular de quem quer que seja. Assim procedendo, elas evitarão sérios aborrecimentos futuros, uma vez que, do modo como andam tais conversas, oriundas de “salões” muita tragédia está por um fio… pois as senhoras e senhoritas que nos trouxeram a “vastíssima bagagem”, estão dispostas a trazer à imprensa, nomes e fatos, para ver se esse feio, triste e deprimente mau costume para de grassar por alguns salões ditos de beleza. Convém lembrar as freguesas com um dístico colocado ao alto do espelho que: “Se teu interlocutor fala mal dos ausentes – falará mal de ti quando te ausentares”.
Lulu Augusto – In Memoriam
Ano VII –
Novembro/1962 –
Número 108
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