Sons de Carrilhões me levam de volta ao passado
Na noite desta terça-feira ao assistir, no Cine Teatro Luz, o concerto do Duo Menandro e Zanin, ao ouvir a magistral execução da valsa Sons de Carrilhões, fui remetido, diretamente, à minha infância. Nasci e cresci em meio a livros e discos e Sons de Carrilhões, ao lado de Abismo de Rosas, do tango Desde el alma e da Ave Maria, de Erotides de Campos, creio tenham sido as primeiras canções que despertaram minha paixão pela música. Em plena época da Jovem Guarda eu ouvia velhos tangos e inefáveis valsas como Branca e Rapaziada do Brás, sempre, em uma velha radiola e na maioria das vezes em discos de 78 rotações. Como disse, assim foi se construindo meu gosto musical, que culminaria na sofisticação rítmica da Bossa Nova e do Jazz. Eu ainda muito garoto ficava em casa na companhia de minha mãe e de minha tia Dina, remexendo nos discos de meus tios René e Lulu e assim fui descobrindo pérolas de nosso cancioneiro, sob os auspícios de minha mãe e de tia Dina, que com sua prodigiosa memória, ia me contando quem eram os autores e os intérpretes daquelas canções que me magnetizavam.
Foi com tia Dina que aprendi a jogar, o que na época chamávamos de fruta e flor. Com ensinamentos sobre música, cinema e televisão, me tornei imbatível naquela brincadeira, que anos mais tarde, tia Dina jogaria com minhas filhas, mas já rebatizado de stop.
Nina Rosa e Mayara, assim como eu, herdamos de tia Dina uma memória de elefante e dessa forma, elas também se tornaram imbatíveis no tal joguinho.
Eu mal havia aprendido a ler e tia Dina montava para mim. Baralhos de pares, um, somente, com frutas, outro com flores, outro com animais e assim eu exercitava a leitura e, principalmente, a memória.
Tia Dina conhecia de cor todos os astros e estrelas de Hollywood e todos os clássicos do cinema americano.
Nos anos 50 a Gessy Lever lançou uma coleção de uma espécie de fichas com a foto de atores e atrizes famosos. A foto vinha na parte da frente e na parte de trás a biografia e filmografia dos astros. Minha mãe e as tias Dina e Lulu colecionavam essas fichas que ainda estão guardadas por minha tia Lulu e eu ainda lembro dos atores preferidos delas. De minha mãe era Gary Cooper, de tia Dina, John Bowles e, de tia Lulu, Errol Flynn. Minhas preferidas eram Gene Tierney, que anos mais tarde eu veria no célebre filme noir, Laura e Rita Hayworth, protagonista do não menos emblemático, Gilda.
Muito de meu gosto pela literatura, como disse inclusive, em minha dissertação de mestrado, devo à tia Dina e também é claro, á tia Lulu e minha mãe, assim como minha paixão pelo cinema e música.
Minhas duas filhas me disseram, recentemente, que me creditam sua paixão pelos livros, discos e filmes, pois eles estavam ali à mão, na estante, tendo o mesmo ‑se sucedido comigo, que nasci e cresci rodeado pelos livros de meu avô Didio Augusto, pelos discos e revistas de meus tios e mãe, que deram a mim e ás minhas filhas, tão valioso legado.
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