Todo o sentimento
Conheci o casal Edson Kasteller e Solange Moretti Kasteller, por meio de minha cunhada Rita Schwab, em meados de 2008. Rita e eles se conheceram na Escola Adventista onde os filhos de ambos estudaram.
Logo em seguida estreitei laços de amizado com Nego e Sola, como os chamava na época, já que hoje, para mim, eles são Black e Sole. Eles se incorporaram a uma trupe que eu chamei de amigos da cultura, da qual faziam parte Margarete Sá, Rita Schwab, Fernandinha Grabowski, Paola Cazamajou Côrrea, Soninha Strapassola e Maria Lúcia Perszel, além de Robson Moser, Dani Reginatto e Di Molleri, que eram também parceiros culturais.
Black, que sempre se interessou pelos prazeres da gastronomia, fez vários cursos no Bistrô da Cultura, que a Fundação de Cultura promovia em parceria com o Senac. O casal, na qualidade de amigos da cultura, estava sempre a meu lado, principalmente, nos eventos que envolviam a música, desde os primeiros realizados em parceria com a Confraria da Cerveja, de propriedade de meus também amigos, Robson Moser e Di Molleri. Mas, como disse, não foi apenas o interesse em desvendar os prazeres as vezes ocultos da gastronomia, que nos aproximou. Muito mais que isso, o efetivo interesse de Sole pela música popular brasileira. Ela é uma excepcional intérprete de nossa MPB e a partir desse interesse mútuo e de sua bela e afinada voz, começamos a fazer algumas coisas juntos, como por exemplo, sua performance até hoje aplaudida, no Tributo a Noel Rosa, promovido pelas Fundações de Cultura de União da Vitória e Porto União, em 2010, no Cine Teatro Luz, especialmente, por sua interpretação muito pessoal de Três apitos, repetida , posteriormente, inúmeras vezes na Ceva do Brandina, mediante grande número de solicitações, precedidas de muitos aplausos.
Black por sua conta, aprimorava seus conhecimentos culinários nos brindando com sua enorme habilidade de assador de churrascos, sempre nos apresentando novidades, fossem nos cortes e na forma de fazer.
Mais uma vez a música e outras afinidades artístico-culturais me aproximaram de pessoas especiais como são Black e Sole. Nesse meio tempo, ou seja, nos ´últimos cinco anos, fui vendo a evolução no violão, de Gabriel, filho do casal, que de um garotinho tímido, hoje já é um promissor violonista, que inclusive acompanha sua mãe em suas apresentações, como o fez no Canto de uma Cidade, promovido pela Fundação de Cultura de União da Vitória em março deste ano, em homenagem ao aniversário da cidade, ao centenário de Vinicius de Morais e aos 55 anos da Bossa Nova. Sole interpretou divinamente as canções do poetinha e do mestre Tom Jobim.
Mas como eu mesmo disse a minha caríssima amiga Solange Kasteller, sua mais brilhante performance acabaria sendo em um de meus últimos atos como gestor cultural do município, no show Elas Cantam Chico Buarque, que produzi em 17 de agosto deste ano, no Cine Teatro Luz.
Sole arrasou ao interpretar, acompanhada por Murilo Damasceno, no violão, Sandro Guaraná, no trumpete e baixo, Ricardo Panela, no baixo, Marcão Saldanha, bateria e Thiago Saraiva, flauta transversal, quatro canções de Chico, Folhetim; Quem te viu, quem te vê; As Vitrines e Todo sentimento, esta acompanhada apenas pelo magistral violão de Murilo e pelo igualmente genial Thiago na flauta transversal.
Emoção e comoção tomaram conta de todos os que lá estavam, eu, especialmente, afinal a produção era minha e num momento único que me remetia a Oswald de Andrade, lembrei de sua emblemática frase, “um dia vocês saberão degustar o biscoito fino que produzimos” . Tinhamos conseguido, nós da produção, os músicos e as intérpretes, Sole, em especial, fazer algo digno de nota, que agradou aos mais exigentes ouvintes.Talvez Sole em sua iluminada interpretação prenunciasse o que dias depois, Nina Rosa Sá, em um texto também iluminado, escreveria, dez anos depois, o gosto amargo do fim.
Fim de um ciclo, mas apenas o amanhecer de uma amizade sólida e eterna.
Obrigado Sole e Black, por me darem o privilégio de partilhar de suas vidas.
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